POPULARES CULPAM GOVERNADOR PELA DEGRADAÇÃO SOCIAL DA LUNDA-NORTE

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O lema de governação de João Lourenço, “corrigir o que está mal, melhorar o que está bem”, não tem aplicação directa no Cuango, Lunda Norte, onde tudo está pior e nada está bem, portanto, não há para melhorar.

Texto de Jordan Muacabinza

Antes da tomada de posse como governador da Lunda-Norte, cargo para o qual foi reconduzido pelo presidente João Lourenço, Ernesto Muangala proferiu discursos que alegraram os habitantes da província diamantífera, principalmente quando disse que “a Lunda-Norte vai brilhar mais que diamantes”.

Passados mais de três meses desde a sua recondução, populares questionam ao governador “quando é que a Lunda irá brilhar como diamantes”. A promessa de “falar pouco e fazer muito” não tem ainda respaldo na província, quando até o lixo se vê em todos lados da Lunda Norte.

Em nove pontos, os residentes locais confrontam o governador com questões que garantem ser urgente solucionar.

Acidente na estrada de Cafunfo

1 – A estrada que liga a sede do município do Cuango à vila de Cafunfo nunca foi asfaltada desde a era colonial, passando pela governação de Agostinho Neto e os 38 anos de José Eduardo dos Santos, onde Ernesto Muangala foi governante da mesma província por nomeação em Outubro de 2012. Dentre essas estradas, destaca-se a nacional 225 que tem agora menos de 50 quilómetros asfaltada, bem como a estrada do município de Lubalo.

2 – A comuna de Camaxilo está desde a era colonial e pós-independência sem redes de telecomunicação, e nem as operadoras móveis Unitel e Movicel têm interesse em estender o sinal para a localidade. Assim, a comunidade não usa telefonia móvel como as outras comunas vizinhas. O administrador daquela comuna tem percorrido mais de 45 kms para transmitir qualquer informação ao administrador do município de Caungula, assim como vários familiares que precisam comunicar-se com seus familiares no interior do país.

O lixo da era de José Eduardo dos Santos continua a ser o mesmo na era da nova administração

3 – Na Lunda-Norte existem professores que são chamados “professores de custo zero”, ou seja, professores que possuem guias de colocação nas respectivas escolas locais e trabalham nelas, mas que nunca foram pagos. E isto dura há quase 5 anos. Questionam-se quando serão pagos. “Será quando o governador for exonerado?”.

4 – No hospital regional de Cafunfo-Cuango diariamente morrem mais de 20 crianças. A mesma não possui medicamentos, nem médicos qualificados, e carece de meios técnicos. O hospital nem tem gerador de energia eléctrica. Os populares reclamam pela falta de morgue, pois a que existe não funciona desde 2016. Paradoxalmente, o falecido irmão do administrador do Lubalo teve de ser conservado na morgue do município de Xá-Muteba, há 76 kms de Cafunfo, onde foi sepultado no dia 20 de Novembro.

5 – No município do Cuango existe uma rádio comunitária, instalada na vila de Cafunfo, inaugurada à véspera da campanha eleitoral de 2008. A mesma terá sido usada num curto espaço de tempo, aproximadamente três meses, no mesmo ano da sua criação. Entretanto, apenas quando o governador desloca-se à vila de Cafundo é que os populares têm acesso à informação radiofónica, pois as ondas hertzianas soam alto e em bom som, mas tão logo o governante dá às costas ficam tantos outros meses sem ouvir a frequência. Pelo que parece, a rádio comunitária “é um monopólio do camarada Ernesto Muangala”, e assim perguntam: “Quando é que esta rádio ira funcionar sem interrupções? Só quando João Lourenço planificar a sua exoneração?”.

O lixo é o asfalto

6 – O lixo, que referimos no início, é apontado como a origem das doenças que causam o maior número de mortes na Lunda Norte. O paludismo e doenças relacionadas têm a génese nas picadas de mosquitos. É incontornável ver amontoados de lixo nos espaços públicos, como mercados e ruas. Isto se deve à ausência de saneamento básico, apesar de o governador ter licenciado várias empresas para tal tarefa. O lixo da era de José Eduardo dos Santos continua a ser o mesmo na era da nova administração. Mesmo a arrecadar milhões de Kwanzas diariamente em cobranças de impostos nos mercados e em outros estabelecimentos públicos, como casas de compra de diamantes, a Lunda-Norte continua sem brilhar. Recordamos as mortes misteriosas de crianças em Novembro, situação que o governador disse ser “próprio deste período chuvoso, tendo em conta o saneamento básico que é débil”, e acrescentou: “Quando a criança começa a adoecer o recurso inicial é o quimbanda e quando a situação se agrava recorre-se ao hospital, onde chega com a doença muito avançada”.

7 – No mês de Outubro e Novembro, elementos afectos a administração local passaram pelas casas de compra de diamantes e cobraram 60 mil Kwanzas, a que corresponde dois tambores de gasóleo, e também pelos mercados e pequenas lojas, alegando que o somatório serviria para a reabilitação da estrada que liga a sede do município a Cafunfo, e a comuna de Luremo. O total arrecadado não se sabe. O certo é que a estrada não foi reabilitada até ao momento. Se é preciso obrigar os cidadãos a contribuírem monetariamente, mesmo sem resultados, os populares querem saber: “onde é que vai o dinheiro vindo do Orçamento Geral do Estado?”.

As casas são erguidas por cima das campas, pois nunca se fez exumação, em total violação à lei que criminaliza a profanação

8 – A vila de Cafunfo está a ser praticamente “engolida” pelas gigantescas ravinas. Os moradores estão a perder as residências para esse “monstro terrestre”, como as fotografias abaixo ilustram. Os populares não vêem a intervenção do governo provincial. Entretanto é a província onde duas empresas exploram diamantes.

9 – Outro problema é a venda de terrenos outrora cemitérios para construção de moradias. As casas são erguidas por cima das campas, pois nunca se fez exumação, em total violação à lei que criminaliza a profanação. Exemplo disto são os cemitérios do Tximbango e do Muacasenha que foram destruídos. O “cemitério do aeroporto”, no sul de Cafunfo, também está em obras. Todas essas obras são antecedidas por vendas dos respectivos terrenos sob própria autorização do governo provincial, pois muitos dos moradores têm licenças de construção adquiridas mediante pagamento de mais de 200 mil Kwanzas por lote. Para além da gravidade descrita, questiona-se ao governador o destino do dinheiro da venda de terrenos.

Estes são os aspectos que os populares lamentaram à reportagem da RA. Assim, a finalizar, os habitantes, na onda de exonerações que têm sido levadas a cabo pelo presidente da República, exigem que João Lourenço, “num curto prazo, exonere o camarada Ernesto Muangala”.

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