MINISTRA DA CULTURA RECUSA DEVOLVER DINHEIRO DE ARTISTA PLÁSTICO

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Hildebrando de Melo | Artista Plástico

Nota de Imprensa: Devolução de dinheiro do Ministério da Cultura a Hildebrando Bienal de Veneza.

Como disse alguém da minha produção em Veneza: “Faremos Tesouro deste ensinamento”.

É no quinto dia que vou ao Ministério da Cultura buscar a carta que nas palavras do director do gabinete da Srª Ministra Drª Carolina Cerqueira dissera: “Sr. Hildebrando quero lhe entregar esta carta em mãos”, em tom de regozijo e com muita satisfação exclamou. Finalmente formalizaram por carta o meu calvário, a minha tormenta e eu acusei a recepção da carta que para mim representou um sonho a desvanecer. No assunto da carta diz: Desistência de participação de Angola na Bienal de Veneza 2019. Mas ao mesmo tempo é para mim um alívio de não ter de entrar mais em contacto com pessoas tão más, como o Paulo Kussy, Suzana Sousa, Aguinaldo Cristóvão, Juelson Rangel e todo o ministério da Cultura. Espero tão cedo não ter de voltar lá. Já que toda aquela gente que lá está no Ministério só causam problemas e dor aos artistas.

Mas, até a presente data, não me devolvem o dinheiro que depositei na conta do Ministério já se passaram dez dias. Uma transferência de um banco para outro banco, da minha experiência que foi a pôr todo o dinheiro na conta do Ministério, demorou um dia e meio. Foi assim que transferi o dinheiro para esta conta da Instituição.

Já são sucessivos telefonemas, mensagens, emails e não vejo a forma de reaver o dinheiro que depositei dos patrocínios para a minha participação na 58ª Bienal de Veneza. Patrocínios que fui eu que angariei, com muito esforço atendendo ao momento actual da economia nacional. Não foi fácil em menos de três semanas reunir todo este dinheiro.

Agora dou conta que quando o Paulo Kussy, Juelson e Aguinaldo diziam para pôr o dinheiro na conta havia um interesse soberano. Como me pressionavam os mesmos dizendo “A Srª Ministra quer o dinheiro na conta”, afinal havia segundas intenções de se apropriarem dele. Começo a constatar, e está aqui a prova. Como é o exemplo de grande parte dos nossos governantes, que, com as sempre mesmas práticas de delapidarem os cofres e dinheiros do Estado. Só que desta vez é dinheiro de alguém justo, que trabalhou, rogou e pediu a outrem patrocínios, vendeu obras de arte para consegui-lo.

Rumores dizem que a Drª Carolina Cerqueira, além da sua arrogância desmedida, já não é a primeira vez que se apropria de algo que não é dela. Já nem falo da passagem dela pelo antigo Ministério da Comunicação Social, que para isso tem instituições competentes para tomar cobro a forma de governar dos governantes, como o Tribunal de Contas e a Procuradoria Geral da República. Há a História de um quadro que ela viu numa exposição de um artista meu colega. E a Srª Ministra na maior das arrogâncias mandou a guarda dela tirar o quadro da parede de uma exposição que estava patente para o levar para casa sem conversar com o artista ou ter o cuidado de pagar por esta obra de arte. Pintura essa que já tinha sido vendida a um coleccionador, que por sinal é também meu coleccionador.

Por isso não me admira que não me queiram devolver o dinheiro, que eu próprio angariei para este evento, para a minha participação de Angola na Bienal de Veneza. Realmente recebi duas declarações assinadas por um técnico. Mas pergunto-me se as declarações que era para eu ser a representação de Angola na Bienal de Veneza, assinadas por ela, Srª Ministra da Cultura, não tiveram qualquer valor, que a mesma pisoteou e ignorou. São estas declarações feitas à pressa que me darão garantia que me vão devolver o dinheiro? Estou bastante apreensivo e descrente com isto. Estou cansado de, como já disse, contactar o Ministério na intenção de reaver os 25 Milhões de Kwanzas. Mas ninguém do órgão se manifesta, e se manifestam é com desculpas que estão no banco a tratar da transferência. Comigo ficou o ónus de ter de pagar justamente o trabalho das pessoas que trabalharam comigo em Veneza. Só que desta forma estou a ver o tempo a passar e eu em incumprimento com eles. Aproveitando dizer que isto foi muito mau para a nossa imagem em Itália, porque toda a produção era local e Italiana, isto para que conseguisse reduzir custos. Também terei de dar contas aos patrocinadores do dinheiro e informar que já não irei mais á Bienal de Veneza. É isto que a Srª Ministra da Cultura conseguiu.

A cultura de um País joga um papel preponderante. Cultura não é só a arte. Cultura é hábitos, costumes, educação do povo e do País. E aqui da parte do Ministério houve uma falta de educação a todos os níveis. Que exemplo é que a Srª Ministra da Cultura nos deu aqui? Quando tudo isto é relegado para segundo plano, ou quando o Estado não faz o devido investimento nesta área tão sensível da alma e espírito do povo que é a cultura. Pondo governantes à altura para os desafios do que é governar. O tecido social fica abalado, mais pobre. É a cultura que faz o Pais mais airoso e belo. Não se faz isto em sociedade a ninguém, muito menos a um artista, que somos nós que inspiramos as sociedades. E pôr pessoas desta natureza a governar, com hábitos e vícios maus, o País não vai para a frente.

Depois de dez dias e seguido desta minha experiência. Como descrevo nestes breves parágrafos. Que, dentro desta linha de concordância, não pode qualquer pessoa ser ministro ou ministra da Cultura. A cultura mexe com muitas sensibilidades. E quanto a mim espero não voltar a cometer este erro. Serviu-me de lição todo este aprendizado.

Como disse alguém da minha produção em Veneza: “Faremos Tesouro deste ensinamento”.

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