RACISMO NO DEL MAR

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Massilon Chindombe

Continua a ser tabu falar-se do racismo, mas infelizmente existe, e Angola não está isenta disso. Temos que ter coragem e determinação para abordarmos com franqueza, olhos nos olhos, esses fenómenos.

Nos últimos tempos não uso o Facebook, por isso soube tarde da polémica em volta do texto do Dito sobre os acontecimentos de domingo, 26-08-2018, no Café Del Mar. Soube que gerou um caloroso debate e como sou citado no texto, por razões óbvias, recebi telefonemas de várias pessoas, familiares, amigos e não só, e lamentavam, criticavam, querem a minha opinião sobre o sucedido.

Se me tivesse sido solicitada uma revisão ao texto retiraria alguns pontos. Isso para dizer que não o subscrevo na íntegra, tem sim alguma dose de xenofobia. Antes mesmo do surgimento do texto, ou seja, logo após a discussão com os responsáveis da casa, tive a oportunidade de dizer ao Dito que senti algum excesso… Mas o momento não era para isso, estávamos todos com os nervos à flor da pele.

Pela resposta do Dito senti que a atitude que teve naquele momento era mais para chamar atenção, inclusive aos agentes da PN que numa primeira fase, apesar de ter sido o Hossi a chamar por eles, tendiam mais a favorecer o pessoal do café. Tinham menos paciência para ouvir o queixoso. Estou em crer que quando o Dito produziu o texto a ideia era a mesma, chamar atenção e provocar debate e penso que conseguiu.

Mas isso são contas de outro rosário, farei outro texto a rebater os pontos negativos no texto do Dito. Por agora vou focar-me no principal para não minimizar nem desviar o foco principal dessa novela.

O HOSSI FOI AGREDIDO POR TER ACEDIDO AO DEL MAR COM VESTES QUE NÃO SATISFAZEM O DRESS CODE.

A história basicamente já foi contada, e está bem clara no texto do Dito. Quem quiser entende-la procure ler o texto. Corroboro com o mesmo no que tange ao racismo implícito na atitude e comportamento do pessoal do DEL MAR e para não ser repetitivo vou só sustentar isso.

  1. O Hossi foi seguido enquanto se dirigia para o balneário, confundido com gatuno.
  2. O responsável assumiu que aquilo tinha acontecido ao Hossi pela forma como se apresentou, a roupa que usava.
  3. Existiam brancos e mulatos com vestes similares e até piores que a do Hossi.
  4. Questionado se aquelas pessoas também tinham sido interrogadas a resposta foi “não”.
  5. Procuramos saber qual era o critério, balbuciou!

Conclusão: A única razão que saltava à vista era o facto de o Hossi ser preto. Isso é racismo. Justifiquem-me o contrário.

“Mas vocês são pretos e não tiveram o mesmo tratamento?”

Sim, é verdade, mas acredito que se déssemos um motivo teríamos sorte similar, nos teriam seguido também, poderíamos ter sido escorraçados feitos kambuás. As manifestações de racismo nem sempre são tão evidentes, surgem de forma camuflada, de forma indirecta.

Não termos sido atacados não é sinónimo de ausência de racismo.

No tempo colonial, onde o racismo era mais declarado, os nossos pais, sob o cunho de assimilados, tinham acesso ao convívio com brancos, nos cinemas, restaurantes, dancings…

Como haviam negros com esse privilégio podemos concluir também que não existia racismo?

“Mas o Hossi distratou a auxiliar de limpeza”.

Seria bom que detalhassem o distrato que justificasse a agressão para debatermos com fundamentos.

Fazendo fé às palavras dos responsáveis do Del Mar, a auxiliar de limpeza questionou ao Hossi de onde vinha, quando procurava pela entrada do WC.

A resposta foi: NÃO TE INTERESSA.

Considero ter sido uma resposta merecida. Nada obrigava o Hossi a intimar com a Sra. que não conhecia de lado algum. Eu talvez desse resposta pior.

Percebe-se que aqueles funcionários estão treinados a reproduzirem racismo sem se darem conta disso. Na verdade são usados!

Mentalizaram-lhes um perfil para o utente do espaço, quem estiver fora do padrão é distratado.

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