PROPINAS ALTAS OBRIGAM MUITOS ESTUDANTES A SUSPENDER MATRÍCULA

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Depois de confrontados, no ano passado, com aumentos nas propinas e noutros emolumentos, neste ano lectivo houve poucas alterações. Muitos alunos vêem-se, contudo, no limite e admitem suspender a matrícula para evitar dívidas. É que, por mais ginástica que façam, os ordenados não esticam.

Apesar das propinas e outros emolumentos não terem registado aumento, neste ano lectivo, muitos estudantes têm receio de se verem obrigados a suspender o ano por incapacidade financeira para garantir o pagamento de propina, apurou o Expansão numa ronda efectuada por algumas instituições de ensino superior.

Jonas Conceição, que vai frequentar o 1º ano do curso de Engenharia Informática, na Universidade Lusíada de Angola, com uma propina de 42 mil kz , receia que não tenha outra opção a não ser suspender a matrícula.

“Embora a propina não tenha alterado, o valor que irei pagar, por exemplo, iguala o meu salário. Nesta condição, sou obrigado a estudar até onde poder, porque, além das propinas, tenho de tratar dos outros emolumentos, da compra de materiais e do transporte”, ilustrou o caloiro. Já Pedro Simão, estudante do 4º ano do curso de Direito da Universidade Independente de Angola (UNIA), reconheceu que, no ano passado, não ficou pelo caminho por ter recebido a ajuda de parentes.

“Hoje em dia, nas nossas universidades, há muitas desistências por falta de pagamento, sobretudo nas instituições privadas. Por isso, muitos preferem trancar (suspender) o ano lectivo para evitar dívidas. Estudar neste País é um acto de coragem”, realçou o estudante, de 37 anos. No seu caso, a propina representa um encargo mensal de 27.500 kz, no presente ano lectivo.

Uma estudante do 2º ano do curso de contabilidade e administração da Universidade Católica de Angola revelou, sob anonimato, ao Expansão, que tomou a decisão de anular a matrícula porque deixou de ter os 37 mil kz necessários para a propina.

“Apesar de ser um assunto que provém de longa data, as propinas cobradas nas universidades são elevadas. Só nos resta a opção de encerrar o ano”, afirmou.

Odeth dos Santos, licenciada em gestão financeira na Universidade Independente de Angola, diz que é com muita tristeza que recorda o tempo em que perdeu bons colegas por não conseguirem pagar a propina estabelecida pela instituição.

Os estudantes da Academia de Pescas e Ciências do Mar do Namibe vão começar a pagar, a partir deste ano, propinas no valor de 15 mil kz, situação que põe em causa a permanência de muitos alunos que provêm de várias províncias.

A decisão surpreendeu os estudantes que estão a pensar desistir porque, segundo alegam, não foram informados da subida no momento da matrícula.

João Caluvela, estudante do curso de administração e gestão das pescas, proveniente da província de Benguela, não vai poder terminar a formação por falta dinheiro.

“Quando fomos fazer a matrícula, não nos informaram que tínhamos de pagar este valor de propina. Neste momento, já pagamos o alojamento e alimentação. Esta decisão complica tudo, só nos resta desistir”, lamentou.

Pedro Tuca, estudante do curso de Mecânica Naval, indignado com a subida da propina, afirmou que muitos estudantes irão desistir, pois não havia acordo de pagamento de propinas.

A Academia de Pescas e Ciências do Mar do Namibe é a única instituição de ensino superior ligada ao sector das Pescas no País.

De acordo com o estudo sobre os Custos e o Financiamento do Ensino Superior, cada estudante, em média, gasta 330 mil kz por ano para frequentar a universidade. A propina é a parcela que representa mais gastos, custando, em média, 276 mil kz.

O estudo revela também que a idade mais frequente é dos 22 anos e a média de idade dos estudantes rondam aos 24,5 anos, sendo que 63% residem com os pais em habitação alugada.

Fonte: Expansão

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