POPULARES DO MOXICO EXIGEM AUTARQUIAS EM TODOS OS MUNICÍPIOS DA PROVÍNCIA

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Mais de cem munícipes do Moxico presentes na segunda conferência provincial sobre as autarquias em Angola foram peremptórios em expressar a vontade de verem implementadas as autarquias em todos os municípios da província.

Rádio Angola | Luena

A associação cívica Laulenu, sediada no Moxico, realizou hoje, sábado, 29, a segunda conferência provincial sobre a institucionalização das autarquias em Angola, tendo como prelectores convidados os politólogos Nelson Pestana Bonavena e Pedro Caiombo, e a deputada à Assembleia Nacional pela UNITA Mihaela Webba.

Bonavena, também jurista e membro do partido Bloco Democrático, que participou via online, começou por afirmar que a Constituição da República de Angola é clara no que concerne às autarquias. “Ela determina que a implementação das autarquias deve acontecer em todos os municípios ao mesmo tempo, não de forma gradual. O gradualismo que se defende aqui [na constituição] é sem dúvida o gradualismo nas atribuições”, frisou.

Evocou a regra do silogismo para enfatizar a aplicação geral das autarquias, pois, “se a constituição diz no seu artigo 218º, nº 1, que as autarquias se organizam nos municípios, logo, todos os municípios passam a ser autarquias, e não em alguns municípios”.

Por seu lado, Mihaela Webba, segunda interveniente no evento, reafirmou a posição do partido que representa: autarquias nos 164 municípios do país. Para a constitucionalista, programas como o Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), criado pelo Executivo, “demonstra que é possível e necessário que em todos os municípios seja implementado as autarquias”. “Se o Executivo lançou o PIIM para todos os municípios, então, do mesmo jeito, todos municípios também podem ser autarquias”, salientou.

A deputada denunciou a intenção do governo apurar e divulgar os resultados das votações nos municípios a partir de Luanda. “Os resultados das eleições no município do Moxico, Camanongue ou Alto Zambeze serão divulgados em Luanda. É essa a proposta do governo do MPLA”, lamentou.

Também enfatizou a questão do crime eleitoral. Para a deputada, o crime eleitoral não está suficientemente tipificado na proposta de lei sobre a realização das eleições autárquicas do governo.

Foi muito aplaudida ao concluir a sua dissertação afirmando que todos os cidadãos da província do Moxico são autarcas em potência, reafirmando que “não faz qualquer sentido que o Alto Zambeze seja autarquia, e o Léua não, o Camanongue autarquia e o município dos Bundas não”. Os munícipes pediram à deputada que seja a embaixadora do Moxico no parlamento e para que esteja mais vezes na província.

Pedro Caiombo, politólogo natural e residente do Moxico, começou por conceituar o termo cidadania, que significa a atribuição às pessoas a liberdade de exercer direitos e deveres livremente. Dentre os direitos, Caiombo exemplificou o direito à identidade, saúde, habitação.

Relembrou o decreto presidencial criado pelo ex-presidente da República que colocava graves entraves às actividades das organizações da sociedade civil, chegando ao ponto de bloquear contas bancárias de várias organizações, entre elas a Omunga.

“A participação e o desenvolvimento da democracia participativa não são separáveis das opções políticas que lhes correspondem. Podem-se encher páginas de enaltecimento à participação, mas se uma autarquia opta pela privatização de funções, pela alienação de competências ou pela transferência para entidades sem legitimidade democrática está a reduzir a participação, a afastar as populações do escrutínio de áreas de gestão”, declarou.

Ao finalizar, Caiombo referiu que “a participação deve ter na sua construção quatro elementos: ser parte do processo de decisão e não uma mera formalidade; ser directa e não apenas intermediada; ser acessível e simplificada para a apresentar de forma compreensível; ser dirigida e orientada para promover a participação dos que primeiro sentem-se excluídos”.

Daniel Tchiwape, membro da Laulenu encarregue pela moderação, realçou a resposta dada pelo presidente da República em entrevista cedida ao Novo Jornal e TPA segundo a qual actualmente a prestação de serviços de saúde no país melhorou ao ponto de aos cidadãos lhes serem entregues os medicamentos e não apenas a receita sempre que vão aos hospitais. Em seguida perguntou aos presentes se a afirmação era verdadeira, e se ouviu um unânime e rotundo “não”, pelo que Tchiwape sentenciou: “Então o presidente é mentiroso”. Os hospitais do Moxico continuam sem medicamentos, e por isso a população deposita as esperanças na instituição das autarquias em toda a província em 2020.

Dito Dali, coordenador da associação, teceu duras críticas ao governo provincial pelo estado calamitoso em que se encontra o Moxico. Em tom irónico, perguntou quando é que Gonçalves Muandumba começará a governar. Apontou a falta de informação exacta sobre os custos da requalificação dos jardins do Luena e as empresas encarregues da obra. Informou os munícipes que a Laulenu remeteu uma carta ao governador provincial e administrador do Moxico pedindo informações sobre o orçamento da referida obra, nome das empresas e seus proprietários. Entretanto, passados 20 dias ainda não obtiveram quaisquer respostas.

O momento cultural esteve a cargo do grupo teatral Akwa Moxico, que representou um diálogo em volta das autarquias, com humor e sátira à mistura.

Leonora Mbimbi de Morais, ex-deputada e membro do comité central do MPLA, não compareceu mesmo, como estava previsto, apesar do convite formulado pela associação Laulenu, alegando ter recebido o convite tardiamente. A organização, por seu turno, defendeu-se dizendo que o convite foi entregue duas semanas antes do evento, e que inclusive personalidades que receberam o convite dois dias antes da conferência estavam presentes na actividade.

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