ÓRFÃOS DA GUERRA: A PROCURA PELOS FAMILIARES DOS PAIS ASSASSINADOS DURANTE A GUERRA CIVIL

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Alberto Tchilenho Muxima e Helena Zeca morreram em 1998, assassinados alegadamente por militares das Forças Armadas Angolana (FAA), ao serviço do governo angolano, que à altura invadiu Bié disparando sobre quem fosse conotado com a UNITA. Alberto Tchilenho era mesmo militar das FALA-UNITA, com a patente de capitão, mas foi encontrado em casa com a sua família, no Sowe, desarmado, e sem hesitação foi morto, ele e a mulher. Mas não só ele e a mulher.

Texto de Rádio Angola

Em seguida os presumíveis militares das FAA direccionaram a atenção aos gémeos do casal que assistiram assustados a execução dos pais. Não os pouparam. Dispararam sobre eles também, que tinham apenas dois anos. A guerra é monstruosa!

Três dos sete filhos de Alberto Muxima, dos quais dois com a mulher morta pelos militares e um com outra mulher, e a primeira filha de Helena Zeca estavam em casa da tia, irmã do pai, na comuna Kambandua, há cinco quilómetros de onde decorria a matança. Por isso escaparam, mas a tia não viveu por mais muito tempo, pois em 2000 foi atingida por estilhaços de uma bomba lançada por desconhecidos, no município do Chitembo. A guerra!

O mais velho dos filhos sobreviventes de Alberto Muxima é actualmente repórter comunitário da Rádio Angola no Bocoio, em Benguela. Pinto Muxima se tem dedicado a procurar familiares do pai e da mãe. Em 1998 tinha apenas 10 anos de idade. Não sabe se tem avôs, tias e tios em vida, mas não desiste de os procurar. Esse artigo se enquadra nesse esforço.

A irmã mais velha, filha da mesma mãe, foi imediatamente levada em segurança pela família do pai dela. Os pequenos ficaram a sua sorte, e passaram pelas piores amarguras da vida. Um dos irmãos morreu de fome em 2001. Eduardo Chipoia tinha quase sete anos de idade quando definhou até a morte à vista de todos, na fronteira entre o Bié e o Kuando Kubango. Nem foi enterrado porque “naquele ano de fome ninguém tinha forças para enterrar o outro”.

Mas temos também de falar de uma irmã desaparecida. Sara Noloti Alberto é a segunda filha de Alberto Muxima. Tinha quatro anos de idade quando transformou-se noutra fatalidade para a família. Ainda era o ano de 1998, um mês depois da chacina, quando Margarida Jamba, esposa de Bartolomeu Sapapa, levou Sara para o Huambo em visita à terra natal do marido. Desde essa data nunca mais foi vista. “Não sei se vive ou se está morta”, Muxima fala desanimado.

Sara já estava desaparecida. Estavam todos, fugidos dos confrontos entre a UNITA e o governo/MPLA. Margarida, a senhora que a levou, o fez depois de encontra-la, mas antes deixou uma carta nos arredores, esta onde constava as poucas informações que dispõem.

Pinto Muxima e os irmãos também procuram ela. “Os meus irmãos não param de me perguntar pela família, sobretudo a da parte paterna. E como mais velho que sou tenho de fazer algum esforço para concretizar esse sonho”, contou Pinto Muxima.

Lembra os nomes dos avôs paternos porque “o pai dava sempre umas pistas”. O avô é Pinto Muxima, porém seu “chará”, e Donana Manengo a avó. Também tem os nomes da irmã e irmãos do pai, nomeadamente, Cecília Muxima, Eduardo Tchipoia Muxima e José Kulenga Muxima. Não sabe se estão vivos, mas não perde a esperança.

Alberto Muxima dizia aos filhos que, em caso duma fatalidade, como ocorreu, teriam de ir à província do Kuando Kubango, pois é ali onde estavam os familiares, especificamente nos municípios Kuangar, Menongue e Mutumbo.

Quando lá foi, em 2014, Pinto Muxima não conseguiu localizar quaisquer rastos dos familiares, mas cré que o insucesso foi por não ter tido ajuda no terreno. “Espero que este artigo seja divulgado lá também. Quem sabe alguém reconheça os nomes da família”, almeja.

Os dois irmãos que estão com Pinto Muxima são José Kulenga, 21 anos, e António Segunda, 19. Está cansado, reconhece, mas mantém a convicção de que não desistirá. “Já passamos por coisas piores”.

Ao finalizarmos a conversa disse: “Pedimos ajuda para que o nosso grito chegue além para que os nossos familiares nos ouçam, se existem. Pelo menos vamos saber que temos família”.

Os contactos de Pinto Muxima são: 924704228, [email protected], e ainda o Facebook Pinto Muxima e Tiragem Salvador Valente Kewis.

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