O EMBUSTE DA TAAG

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Sob alegação de que tenha feito um “estudo profundo e imediato nas políticas tarifárias”, o conselho de administração da TAAG tornou público um documento em que diz ter aprovado “a introdução de um novo modelo tarifário”. Essa informação surge na sequência das manifestações convocadas na Lunda-Norte e Moxico, e visa exactamente animar e dissuadir as/os jovens organizadoras/es dos protestos, em que se destaca a jornalista Rita Filomena, no Dundo, vítimas de intimidações.

Texto de Rádio Angola

Analisemos, porém, a anunciada redução. Basta espreitamos o site da TAAG e pesquisarmos pelo preço do bilhete de Luanda a Lunda-Norte, ou vice-versa, ida e volta, para percebemos que custa taxativamente 84 mil Kwanzas. Mais caro, notemos, em relação aos bilhetes para ida à África do Sul ou Namíbia em alguns momentos.

O alegado novo modelo é, na verdade, um modelo antigo, só nunca serviu para os voos domésticos. O modelo assenta numa redução em até 20% do actual valor do bilhete. Atenção. O preço do bilhete permanecerá o mesmo – 84 mil Kwanzas, ida e volta de Luanda a Lunda-Norte, vice-versa. A anunciada redução é uma medida prevista para aqueles que adquiram “com a devida antecedência”, ou seja, será preciso comprar os bilhetes semanas ou meses antes – não esclarecido o tempo – da viagem a ser realizada.

Isto não é novidade, e a TAAG bem sabe disto. Essa medida não é o que os populares da Lunda-Norte e Moxico exigem, mas sim a redução dos preços, e não uma obrigação de os mesmos comprarem os bilhetes com vários dias de antecipação se quiserem gastar menos Kwanzas, como se estivessem a preparar uma viagem a Windhoek ou Dubai.

A indexação de uma redução por compra antecipada é um mecanismo normalíssimo na política comercial de qualquer empresa, tal como a própria TAAG adopta para os voos internacionais. Não se compreende, isso sim, como a administração da transportadora aérea nacional nunca implementou essa opção aos voos domésticos, medida que existe até em candongueiros. Isso também é estranho!

O conselho de administração da TAAG está a fingir desconhecer os conceitos de “baixa dos preços” e “redução por antecipação”. Fingindo, transmite aos descontentes uma falsa ideia de que está a atender efectivamente aos clamores dos contribuintes, e muitos, desapercebidos, aplaudem a iniciativa com expressões de júbilo como “foram vergados”, “começam a aprender”, e inclusive o matutino estatal, que tanto quer vender a imagem de estar em fase de abertura à pluralidade de expressão, deu um “alto” à suposta “decisão sensata” da TAAG.

Essa manobra do conselho de administração reflecte a gestão manipuladora do Executivo, e destaca-se a astúcia do ministro de tutela, Augusto Tomás, que chefia os Transportes desde 2008 e é compadre do presidente da República, talvez a explicação para ter escapado às “implacáveis exonerações”.

Desta feita, visto que a exigência dos manifestantes é clara, mantém-se o foco: protesto contra o aumento dos preços, que passou de 34 mil para 84 mil Kwanzas, um acréscimo absurdo em mais de 100 por cento, totalmente longe das possibilidades de quem aufere o salário mínimo nacional e condição financeira dos habitantes da Lunda Norte e Moxico. Uma prisão provincial. Pelo que a TAAG simplesmente tem de recuar da sua decisão, e repor os 34 mil, juntando o modelo de redução dos preços nas compras antecipadas.

Resta-me impulsionar os organizadores das manifestações e todos os que delas queiram participar. Esperemos, portanto, que esta onda de reivindicações não fique pelos transportes e abate indiscriminado de árvores –  no caso do Moxico -, mas que se estenda para outras áreas da vida social. E mais: que habitantes noutras províncias sejam contagiados também.

 

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