MUNÍCIPES DO CAZENGA VOLTAM A MARCHAR PELA DESTITUIÇÃO DO ADMINISTRADOR

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A segunda marcha para exigir a destituição do administrador municipal do Cazenga, Victor Nataniel «Tany» Narciso, pela “má gestão” começou pouco antes das dez horas, tendo como ponto de partida o “Tanque do Cazenga” e ponto de chegada a administração municipal.

Texto de Pedro Gonga

Desta vez o número de participantes aumentou, registando-se maior participação de mulheres. Mais de duas centenas participaram da marcha, vindo de vários pontos do município. Sob o lema “Tany Narciso fora”, os jovens entoavam cânticos em que se ouvia “Tany gatuno fora; Queremos luz, água e educação, você que sofre, vêm marchar connosco”. Também exibiam cartazes com vários dizeres, como “Sr. Administrador o teu prazo expirou; Excelência, Sr. governador, não és cego muito menos mudo para veres e ouvires as nossas reclamações no Cazenga. EXONERA-O JÁ; Um mês, uma marcha até que ires embora; Queremos a escola Angola e Cuba; Tany, Cazenga não é tua lavra, por isso devolva-nos as casas que partiste no Kalawenda”, dentre outros dizeres.

Os problemas que os manifestantes apresentaram na primeira marcha são os mesmos que os jovens voltaram a apresentar. Dentre eles a falta de saneamento básico no município, a falta de escolas públicas, hospitais, o aumento da criminalidade.

Segundo o jovem activista Josimar Gingungu, residente no município há mais de duas décadas e presente na marcha, disse aos microfones da Rádio Angola que “o administrador Tany Narciso perdeu a cabeça quando o mesmo vai aos órgãos de comunicação social com discursos falacioso dizendo que o Cazenga tem zonas verdes, o administrador está a confundir zonas verdes com águas verdes paradas”. E teceu ainda duras críticas ao administrador:

“O administrador Tany Narciso tem arrecadado nos mercados valores monetários que não beneficiam o município, esses valores são desviados para as suas contas bancárias”.

Questionado se o administrador mostrar disponibilidade em resolver os problemas que levantam seria deixado na liderança do Cazenga, Josimar respondeu:

“Sim, desde que mostre competência, desde que trabalhe no verdadeiro sentido, e aposte nos principais sectores, como a saúde, a educação, saneamento básico, o combate a criminalidade, e que deixe de desviar os valores do município, também que deixe de praticar negócios ilegais”.

Entretanto, falando da aderência da população à marcha, Josimar disse estar satisfeito pelo maior número de munícipes presentes em relação à primeira, e acredita que o Cazenga acordou, e também mostrou-se congratulado pela atitude correcta da Policia Nacional presente no protesto, que antes, durante e depois da manifestação estiveram para garantir a ordem e a tranquilidade pública.

“De princípio os agentes da policia queriam que nós começássemos a marchar apenas às 14 horas, queriam que voltássemos em casa para depois virmos realizar a marcha, mas a uma de conversação que tivemos com o comandante Mateus Domingos foi suficiente para nos entender, por isso estamos mais uma vez a realizar a marcha na hora prevista e a PN está a ter uma postura muito boa, está a sair-se muito bem”, conclui Josimar.

Uma munícipe presente no protesto, que não quis ser identificada, disse aos microfones da RA que Cazenga passa por momentos lastimáveis, por isso espera apenas ver Tany Narciso fora da administração do município.

“Não temos água nem luz e se temos é de má qualidade, mais pagamos impostos sempre que nos cobram, os nossos filhos não estudam por falta de escolas públicas, tínhamos a escola Angola e Cuba, mas hoje está onde!? Não trabalhamos por falta de emprego, as estradas continuam como estão, a delinquência está a aumentar a cada dia que passa, afinal o Tany Narciso quer o quê com o nosso Cazenga!? Por isso hoje me juntei a esses bravos jovens para dizer um basta ao Tany”, lamenta a senhora.

Ainda nessa segunda marcha, estiveram presentes famílias do bairro Kalawenda cujas casas viram demolidas pela administração do Cazenga. São 569 casas que foram demolidas naquela circunscrição.

Segundo Paixão Manuel, presente na marcha e residente no bairro Kalawenda, que também viu a casa ser partida, desde 2007 que a administração partiu as casas e “até ao momento não foi resolvido o nosso problema”. Adiantou que “uns receberam casas, outros não, continuamos a viver nas tendas e a administração não se pronúncia sobre o caso”.

À altura das demolições, o grupo de família que viram as suas casas demolidas recorreram ao Governo Provincial de Luanda (GPL), que lhes informou que o processo de realojamento estava em curso e que as condições estavam a ser criadas para o efeito. Para o espanto de muitos, quando começou o realojamento nem todas as famílias beneficiaram do processo. “Realojou-se umas famílias e outras ficaram a relento”, disse Paixão.

“Em 2010 voltamos a remeter uma carta ao governador provincial de Luanda, na altura dirigido por Bento Bento, e fomos informados de que o realojamento voltaria a ser feito em Março, mas tal não aconteceu”, conta Paixão Miguel, que acrescenta: “passados três anos, isto em Agosto de 2013, tomamos conhecimento de um despacho para o segundo realojamento da população que ainda se encontra na mesma situação mas o administrador Tany Narciso não compareceu no local para o processo”.

“O senhor administrador não compareceu ao local para remover a população. Essas residências até hoje estão na posse do Tany Narciso. Não atribuiu as casas que o GPL preparou para as populações. Nós temos provas suficientes, temos documentos que comprovam, por isso nós consideramos o administrador Tany Narciso um gatuno, um desviante de bens públicos”, acusou Paixão.

Questionado se as vítimas já terão contactado o administrador, Paixão respondeu que em todas as vezes que o fazem não têm tido êxito, muito pelo contrário, são ameaçados pelo administrador na tentativa de serem postos à cadeia.

“O administrador alega que não comeu sozinho o dinheiro, e desafiou-nos a recorrer a qualquer lugar, dizendo que não seremos ouvidos”, denuncia.

Para terminar, Paixão Manuel, acompanhado de outras famílias que estão agastadas com a situação, pede apenas que o administrador Tany Narciso seja destituído da administração do município. E desafiou ao administrador a comprovar que não se apoderou das casas, “porque nós temos documentos que comprovam que ele terá recebido as casas”. Aproveitou também os microfones da RA para apelar ao GPL que resolva o mais rápido possível o caso.

A segunda marcha terminou no local previsto, defronte a administração municipal, diferente da primeira, embora a polícia tenha tentado impedir que os jovens chegassem à administração. Mas, por insistência dos jovens, conseguiram “romper” a corrente montada pela Polícia Nacional, e aí protestaram alto contra a má governação de Tany Narciso.

Ainda nessa marcha, os manifestantes dispensaram alguns minutos para pedirem a libertação dos jovens presos e condenados em Malanje. Enquanto o actvista Dago Nível chamava em voz alta o nome de cada actvista preso, os participantes à marcha respondiam em voz alta também “Liberdade Já!”.

Viriato da Cruz, um dos organizadores do protesto, deixou claro aos presentes que se Tany Narciso não for destituído ou demitir-se do cargo que ocupa dentro de 15 dias Cazenga irá marchar pela terceira vez. Esclareceu ainda que o terceiro protesto será defronte ao GPL, em forma de uma vigília pacífica de dois dias, conclui da Cruz.

Recordar que  a primeira marcha ocorreu a  sete de Abril de 2018 e exigia a destituição de Tany Narciso. Recordar também que o professor e investigador Nuno Álvaro Dala publicou recentemente um relatório intitulado “Os negócios ilegais do Tany Narciso”, onde são apresentados os negócios ilegais praticados pelo administrador a nível do município.

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