Manifestantes detidos pela Polícia Nacional no dia em que João Lourenço visita província do Moxico

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Efectivos da Polícia Nacional detiveram esta tarde cerca de 23 cidadãos que se concentravam na cidade do Luena, província do Moxico, para uma manifestação pacífica contra a gestão do governador Gonçalves Muandumba. O protesto coincidia com a visita do presidente João Lourenço ao Moxico.

De acordo com o portal Makangola, o líder da associação cívica Laulenu, Benedito Jeremias Dali, co-organizador da manifestação, é um dos detidos. Benedito Dali tornou-se bastante conhecido em 2015, quando foi detido, em Luanda, por participar num encontro sobre formas de protesto não-violentas. É o famoso caso dos 15+2, em que 17 activistas foram inicialmente acusados de tentativa de golpe de Estado contra José Eduardo dos Santos, condenados e amnistiados no ano seguinte.

Angelina Vika, de 26 anos, uma das manifestantes, conta o sucedido: “O comandante municipal (João Tchissende) tentou primeiro convencer-nos a não realizar a manifestação. O Benedito disse que era um direito constitucional. Aí começou a repressão com a Polícia de Intervenção Rápida (PIR).”

“O comandante municipal deu um pontapé no rabo do meu vizinho José, um professor, porque ele estava a filmar com o telefone. Ficou sem o telefone”, denuncia Angelina Vika.

Segundo a jovem, “um dos oficiais da Polícia Nacional envolvidos na repressão, aconselhou-a a não se envolver ‘com esses rapazes confusionistas’”. E garantiu-lhe que os jovens seriam mantidos em detenção “até que o Sr. Presidente João Lourenço saia do Luena”.

Segundo Nelson Mucazo Euclides, um dos organizadores da manifestação, “os detidos estão a ser transportados para o Lucusse, a mais de 130 quilómetros da capital da província”.

Lucusse é a comuna do município do Moxico onde a 22 de Fevereiro de 2002 o então líder guerrilheiro da UNITA foi morto pelas forças governamentais, marcando o fim da guerra.

Por volta do meio-dia, a polícia deteve dez manifestantes no jardim da Escola Missionária de São José, entre o Monumento da Paz e o bispado. Transportou-os imediatamente para fora da cidade. Depois das 15 horas, um segundo grupo tentou concentrar-se no mesmo local e teve o mesmo destino.

“Pelo que sabemos, não há cadeias no Lucusse. É só para desterrá-los lá. Deixam-nos lá sem dinheiro e assim é muito difícil regressarem à cidade”, denuncia Nelson Mucazo.

No auge das manifestações anti-Dos Santos, em Luanda, a polícia detinha recorrentemente os manifestantes e abandonava-os fora da cidade, a dezenas de quilómetros de distância e sem os seus pertences, de modo a dificultar-lhes o regresso

O Maka Angola tentou contactar o comandante provincial da Polícia Nacional, comissário Dias do Nascimento, por intermédio do seu director de gabinete. Este manifestou-se indisponível, por motivos de viagem, e recusou-se a disponibilizar um contacto do Comando Provincial.

Angelina Vika reporta também que foram detidos mais alguns jovens que nada tinham a ver com o protesto: “Havia um grupo de jovens inocentes a beber cerveja na rua e também foram levados. Já são mais de 30 detidos.”

O Maka Angola tem em sua posse a comunicação do protesto às autoridades, datada de 30 de Agosto passado. Nesta comunicação, os jovens enumeram aquilo que consideram ser os principais males do actual governo provincial: a corrupção, a incompetência e a falta de transparência na gestão do erário público. Indicam ainda o desemprego como consequência da má governação.

A carta foi assinada por 12 activistas. Em resposta oficial, o segundo comandante provincial da Polícia Nacional, Alberto José Tchinhama, chamou os signatários para um encontro, conforme explica Nelson Mucazo Euclides, um dos seis activistas que participaram nesse encontro.

“Comunicou-nos que a manifestação deveria ser antes ou depois da estadia do presidente João Lourenço no Moxico”, revela Nelson Euclides. “Não aceitámos esta proposta. Dissemos que queríamos protestar pacificamente durante a visita do presidente, para lhe mostrar o nosso descontentamento com a governação no Moxico”, explica o activista.

O comandante disse-lhes, então, que não teriam segurança policial no dia da manifestação. “Nós dissemos que isso não seria problema. Mas fomos surpreendidos com a brutalidade da polícia. Até crianças que saíam da escola foram espancadas. A polícia confiscou e partiu telefones.”

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