MANIFESTAÇÕES POR UM REPATRIAMENTO JUSTO DO DINHEIRO ROUBADO VÃO CONTINUAR

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O parlamento angolano prepara-se para aprovar uma lei que autoriza todas as pessoas que se apropriaram e desviaram dinheiro ilicitamente e o colocaram fora do país a trazerem-no de volta sem quaisquer consequências jurídicas.

Texto de Pedro Gonga

Na sequência do projecto de lei da iniciativa de João Lourenço, enquanto chefe do Executivo, cerca de duas dezenas de jovens sem filiações partidárias decidiram juntar-se hoje, sábado, pelas 10h, no largo 1.º de Maio, em Luanda, a fim de se manifestarem de forma pacífica com vista a exigir que o repatriamento seja directo aos cofres do Estado para proveito da população.

Durante a manifestação, os jovens entoavam cânticos como: ” governo, gatuno, queremos nosso kumbu”, “não temos saúde, não temos educação, não temos casas, por isso queremos o nosso kumbu”. Também exibiam cartazes com vários dizeres, como: ” Repatriamento sim, mas lavagem não”.

A Rádio Angola cobriu a manifestação. Segundo um manifestante, que preferiu falar sob anonimato, “o repatriamento de capitais é importante e urgente porque com esse dinheiro que está fora de forma ilícita deve servir para o benefício dos angolanos, aliás, o dinheiro pertence aos angolanos,  foi extraído do erário público”. O jovem relembrou que “o povo angolano ainda carece de saneamento básico, carece de uma educação, de saúde, e com esse dinheiro poderá servir para investir nessas áreas”.

“A juventude angolana não tem emprego, todos nós sabemos disso, eu sei, o senhor jornalista também sabe, eles também sabem disso, então, com esse dinheiro aqui no nosso país, os empresários poderão investir aqui mesmo em Angola, o que poderá criar novos postos de emprego para a juventude angolana, daí a razão que levou-nos hoje a juntarmos-no aqui”, concluiu.

A manifestação contou com a presença de várias individualidades da sociedade civil, com destaque ao académico Fernando Macedo, a co-organizadora Laura Macedo e alguns elementos do grupo de jovens do «Caso 15+2».

A polícia esteve presente no local, mas desta vez com uma nova missão: “garantir a ordem e tranquilidade”, diferente do que se tem registado em outras actividades do género, em que os manifestantes são brutalmente reprimidos. Antes, proibiu que a manifestação decorresse defronte à estátua do primeiro presidente do país, António Agostinho Neto, com o pretexto de que os 150 metros à volta do recém-promovido a general constituem um órgão de soberania.

NITO ALVES CRIA EMBARAÇOS AO PROTESTO

Nito Alves | DR

A manifestação decorria na normalidade, como manda a lei. Quando passavam  duas horas do evento, o jovem activista Nito Alves irrompeu pelo largo 1.º de Maio na companhia de outros jovens causando confusão ao curso do protesto, isto ao impedir a circulação das viaturas e utilizando expressões e dístico desaconselhados pela organização da manifestação.

Os organizadores, juntamente com a Polícia Nacional, chamou Nito e companheiros à razão, mas nem por isso se acalmaram. Usavam palavrões contra o presidente da República, João Lourenço, bem como aos manifestantes que estavam presentes, do tipo: “vocês não são manifestantes, vocês são abutres”, “comem com o João Lourenço, seus traidores”, “estamos em África, e em África as manifestações não são feitas de forma pacífica”, diziam o “grupo do Nito”, que chegou mesmo ao ponto de interditar a via durante cerca de cinco minutos.

Diante desse cenário, Laura Macedo, uma das organizadoras do protesto, chamou todos os manifestantes presentes a fim de dar um comunicado.

“Tendo em conta que o cidadão Nito Alves e o seus companheiros de forma absurda e estúpida vieram aqui a fim de provocar confusão com a nossa passividade, pois eles não vêm em passividade, por isso, eu venho informar-vos que para a nossa saúde, para o nosso bem-estar, a manifestação está encerrada em virtude da confusão que o Nito Alves está a proporcionar juntamente com os seus companheiros nas ruas. Nós não queremos ser confundidos, nós somos da paz”, vincou.

Agradecendo os presentes, Laura Macedo deixou claro que “as manifestações não hão de parar e que brevemente iremos anunciar o próximo protesto”.

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