JOÃO LOURENÇO E O SEU PROTAGONISMO: O QUE A NOVA REALIDADE POLÍTICA NOS PODE ENSINAR?

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Muata Sebastião | Mestre em Filosofia e Graduado em Ciências da Educação

“Assumo desde já o compromisso de executar as minhas promessas eleitorais, com políticas públicas que vão ao encontro dos anseios dos cidadãos e com uma governação inclusiva, que apele à participação de todos os angolanos, independentemente do seu local de nascimento, sexo, língua materna, religião, condição económica ou posição social.

Procurarei marcar este mandato por uma atitude responsável perante os problemas da Nação. É importante que quem quer que venha a exercer funções no Executivo se preocupe com esta missão, que deve comungar-nos a todos, para além da cor política ou das opções ideológicas de cada um. O interesse nacional tem de estar acima dos interesses particulares ou de grupo, para que prevaleça a defesa do bem comum”.
Essas palavras demonstram claramente a vontade política assumida na pessoa do actual líder do governo de Angola e é com elas que pretendo começar a minha reflexão sobre a nova onda política angolana, sem me dar o luxo de fazer qualquer tipo de avaliação.

Sendo assim, a minha reflexão não será apenas voltada para à compreensão da política como tal, mas sim, por meio dela fazer um percurso gnosiológico à luz da nova realidade política observando especificamente no que a nova liderança do país pode significar para os angolanos e, sobretudo, observar como a experiência do novo líder pode ser interpretada nas organizações compreendendo especificamente a forma como pode-se entender o binómio líder- liderado.

No discurso de investidura, o presidente de Angola assumiu várias posições mesmo que de forma abstracta, tais, demonstraram claramente que “ melhorar o que está bom e corrigir o que está mal” não é um aforismo qualquer, mas sim a palavra de ordem e o porta-bandeira da nova liderança do país.

Nesta fase, passados 12 meses desde que JL assumiu as rédeas do país, vários são os acontecimentos que têm marcado à dinâmica social e política do país e, muitos destes não responderam as expectativas dos angolanos, o que causou algum desconforto social manifestado nas passeatas e protestos, como foi o caso da lei do repatriamento de capitais que, para muitos é mais uma brecha que se abre para os que durante muito tempo delapidaram o erário público uma vez que, mesmo repatriando os capitais ainda assim, continuarão a ser donos dos valores roubados dos cofres públicos.

Na verdade, independente do que possa vir acontecer no país, em função das mudanças políticas levada à cabo, sendo elas favoráveis ou não aos interesses da sociedade é importante que a política não se resuma nos discursos, mas que vá além dele, ou seja, por meio delas vão se criando mecanismos possíveis para tornar o discurso numa fala realizável. Daí que, se torna importante acompanharmos atentamente as acções do actual governo uma vez que o mesmo, na pessoa do seu líder assumiu um compromisso público como se pode ler no seu discurso “ (…), nossa responsabilidade a construção de uma Angola próspera e democrática, com paz e justiça social. O mais importante continua a ser resolver os problemas do povo. Mas isso não se faz apenas com palavras, mas sim com políticas públicas que respondam o melhor possível aos anseios e expectativas dos cidadãos, o que implica uma aposta cada vez mais séria no sector social, num contexto de crescimento sustentável do país. É o que nos propomos fazer neste mandato, mesmo num contexto de crise financeira global”.

É claro que, como cidadãos, devemos ter a preocupação não apenas para aplaudirmos as acções que o governo tem levado a cabo, mas capazes ainda de interpretarmos os efeitos das acções na vida das populações porque o que interessa é a “practical veritatem”, ou seja perceber como e quando é que os problemas do povo estão sendo resolvidos.congo_child_mining.569fa4e075f91

A luta contra a corrupção, o nepotismo, e todos outros problemas socias e políticos crónicos, até então reinante em Angola, facto constatado e que o próprio presidente assumiu no acto da sua investidura e voltou ainda a assumi-lo na tomada de posse da presidência do MPLA manifesta claramente que todos esses problemas foram identificados assim como os seus autores, uma realidade que de certa forma tem reduzido o grau do cepticismo de alguns face as novas dinâmicas registadas, nos últimos dias por parte das instituições judiciárias, como é o caso da PGR que, entendendo o que é colocar “ sal na gasosa”- afirmação do próprio JL- tem sabido, nos últimos tempos desempenhar com maior seriedade o seu papel, facto que se pode comprovar com a nova onda de prisões em que os principais visados são ex- dirigentes, como é o caso do ex-Ministro dos Transportes Augusto Tomás e a do antigo PCA do Fundo Soberano. Com todos esses acontecimentos ninguém está alheio, o que significa dizer que, de uma forma ou de outra tudo isso está marcando a nova era política e nota-se o claro entendimento de que aos pouco vai existindo no país uma nova forma de gerir a res publica, mas ainda sim, não há efectivamente nada que, por esta via tenha mudado o quadro social do país, ou seja, nada de concreto mudou na vida das populações.

A actual realidade que se vive parece ser o claro cumprimento apocalíptico anunciado pela oposição durante a campanha eleitoral e que hoje, com a onda das prisões e da dura afirmação contra a corrupção por parte da PGR a oposição vê-se incapaz, até certo ponto de reinventar-se e isso, não agrada nada alguns políticos da oposição como é o caso do deputado da CASA-CE que segundo fontes do JA do dia 26 de Setembro de 2018, página 5, e fruto do resultado da actual situação política entende que “ a governação obriga a oposição a alterar a estratégia”.

Diante de todo esse cenário, quer queiramos quer não, as opiniões continuam cada vez mais divergentes e por via disso, alguns contestam as acções da nova liderança, considerando-as incapazes de proporcionarem alguma equidade social, facto que contribui para a dificuldade de adaptação à esta nova fase, não somente por causa das simulações políticas, mas sobretudo, numa possibilidade do incumprimento do programa de governo porque, por várias vezes os angolanos foram enganados com as simulações protagonizadas pelos antigos líderes.
Liderança-e-Motivação-–-5-Dicas-Infalíveis

Assim como na política e/ou na vida profissional, é preciso que as pessoas estejam preparadas para às mudanças de gestão e tendo, sobretudo, habilidades para se adaptarem rapidamente às pessoas e situações. Por isso, a atenção ao comportamento no período de adaptação é fundamental. E para tornar sustentável a minha reflexão destaco principais atitudes que, segundo o meu entender, jogam um papel fundamental no momento da adaptação:

(i) Relacionamento: criar relacionamento é um ponto-chave, e isso não significa forçar uma aproximação pessoal. Significa conhecer, deixar-se conhecer e entender como vai ser a nova etapa. Por meio da comunicação é possível descobrir o ritmo de trabalho, a forma de cobrança, preferências e exigências do novo líder e, com isso, construir uma relação de trabalho saudável, em que haja sintonia para a entrega de melhores resultados. Atenção, não precisa bajular.

(ii) Do zero: tudo está começando do zero e todo o sistema e valor que havia sido notado pelo antigo chefe é perdido. Quando uma nova pessoa passa a estar no comando, uma nova análise de comportamento e desempenho surge. Aqueles pontos fortes que já eram reconhecidos precisam vir à tona novamente, assim como a motivação no trabalho. Demonstrar atenção, proatividade e competência vai fazer a diferença. É importante para o novo gestor saber que pode contar com o funcionário e que enxergue nele um parceiro profissional.

No seu primeiro discurso João Lourenço reconhece que é preciso um trabalho conjunto e para tal, assume-se aberto para cooperar com todos, inclusive com os grupos de pressão algo que contradiz a ideia da antiga governação que via nestes uma ameaça à “democracia”. E diz JL que “A construção da democracia deve fazer-se todos os dias, mas ela não compete apenas aos órgãos do poder do Estado. Ela é um projecto de toda a sociedade, um projecto de todos nós. Vamos, por isso, construir alianças e trabalhar em conjunto, para podermos ultrapassar eventuais contradições e engrandecer o nosso país”.

(iii) Otimismo: muitas vezes, a troca de líder em uma equipe pode significar que as entregas e /ou políticas públicas não estavam atingindo os objectivos. Para a política, pode significar que as acções empreendidas não atendiam os anseios das populações. Daí que, aproveitar as mudanças para desenvolver habilidades que eram insuficientes é uma boa medida. Se os resultados no departamento e /ou ministérios melhorarem, boas notícias podem chegar junto da visibilidade que alcançarem juntos.

Muito além da figura que te dirige, a mudança de gestor pode trazer uma série de alterações no trabalho, afinal, uma nova pessoa tem personalidade diferente e vai tratar-te de maneira diferente.

“É importante que quem quer que venha a exercer funções no Executivo se preocupe com esta missão, que deve comungar-nos a todos, para além da cor política ou das opções ideológicas de cada um. O interesse nacional tem de estar acima dos interesses particulares ou de grupo, para que prevaleça a defesa do bem comum”- palavras de JL.

As acções políticas encontrámo-las em todos os segmentos da vida, sobretudo, quando somos convidados a manter relações de co-responsabilidade. Daí que, ao reflectir sobre a nova liderança minha intenção não é fazer qualquer tipo de avaliação do Governos de JL, mas sim convidar aos leitores a manterem o espírito de crítica e reflexão porque as lideranças justificam-se pela existência dos liderados e qualquer acção movida contra ou a favor incidem na vida dos cidadãos- liderados. 0,60a1e769-2e0c-4d2b-a5fb-84fe0cd920ec--r--NjQweDM0NQ==

Essa postura ao qual convidamos os nossos leitores, surge na intenção de eliminarmos a tendência das “argumentações messiânicas” como muitos pretendem fazer ou têm feito para provar ou não certas atitudes do líder. O certo mesmo é, pensar sobre os efeitos da liderança na vida das populações, sobretudo, quando não há nada que prove a mudança real do gráfico social. Os exemplos e as experiências da política podem ser reflectidos e vividos em qualquer ambiente social, sobretudo, no universo corporativo e familiar onde muitos cidadãos passam maior parte do tempo, daí a importância de olharmos nas mudanças não sempre como algo necessário, mas também como forma de resposta aos problemas que vivenciamos no dia –a -dia.

Terminando a minha reflexão gostaria trazer, como complemento a seguinte questão: Caso aconteça uma mudança na sua empresa, na sua casa, no seu bairro, você vai estar preparado para tudo?
Espero que esse texto tenha contribuído para alguma coisa em sua vida!
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Fonte: Observatório da Imprensa

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