«INJUSTIÇA» CONTRA O ÚNICO MILITAR ENTRE OS 15+2 LEVA CIDADÃOS À RUA

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Vigília em solidariedade para com o tenente das FAA, envolvido no caso 15+duas, cujos salários foram suspensos, acontece este sábado, defronte à Igreja Sagrada Família.

Vários cidadãos vão sair à rua para exigir que as Forças Armadas Angolanas (FAA) resolvam o problema do jovem Osvaldo Caholo, o único militar entre os activistas do processo 15+duas, que continua a queixar-se de injustiça, na sequência do desfecho do julgamento.

O tenente da Força Área Nacional foi condenado a uma pena de dois anos a oito anos e meio de prisão pelos crimes de “actos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores”, em 2016. Desde a detenção, em Junho de 2015, que a instituição deixou de lhe pagar os salários. Osvaldo Caholo está ainda impedido de entrar em qualquer unidade militar do país, apesar de ter sido colocado na reserva pela Direcção de Pessoal e Quadros das FAA.

Esta e outras questões motivaram vários cidadãos a organizar a referida vigília neste sábado, 5, defronte à Paróquia da Igreja Sagrada Família, em Luanda. Donito Carlos, um dos organizadores da manifestação, disse a este semanário que o objectivo do evento é solidarizar-se para com o tenente que as Forças Armadas Angolanas licenciaram para a reserva sem explicar as razões. O co-organizador da vigília afirmou ainda que a instituição militar violou as próprias normas. “O Osvaldo Caholo, enquanto militar, é cidadão, é pai de família. Foi licenciado para a reserva de forma particular quando as regras a nível das FAA obrigam a licenciar um colectivo e não uma pessoa singular. Isso mostra claramente uma violação”, disse.

O protesto, que decorre sob o lema Devolvam o emprego do Osvaldo Caholo, está marcado para as 18 horas. Segundo o promotor da referida vigília, o silêncio das autoridades implica que “os dirigentes continuam com os hábitos da governação anterior, porque se eles estão de facto a corrigir o que está mal, que o façam a todos os níveis. O Osvaldo Caholo é um dos cidadãos prejudicados pela governação de José Eduardo dos Santos. E seria bom que a governação actual resolvesse o caso dele, mas não é o que acontece”, lamentou.

Nesta quinta-feira, 3, Osvaldo Caholo disse ao Novo Jornal que está “numa situação de miséria crónica” devido ao não pagamento dos subsídios a que tem direito. “Não tenho nenhuma renda. Estou a depender da mendicidade”, contou o jovem, que tem promovido palestras sobre o exercício de cidadania em várias comunidades, nas quais abordar várias questões sobre as autarquias.

Quase um ano sem resposta: Mãe de Caholo aguarda pela resposta do PR

Tendo em conta a nova realidade política que o país vive, a mãe do também activista acusado de tentar protagonizar um golpe de Estado contra o ex-Presidente da República José Eduardo dos Santos, pediu, através de uma carta ao actual chefe de Estado João Lourenço, a intervenção deste.

A carta enviada à Presidência da República, em Abril do ano passado, não teve até ao momento qualquer resposta.
Na missiva a que este semanário teve acesso, Isabel António Correia, viúva, de 63 anos, escreveu que manifesta a sua “profunda tristeza e preocupação pelo silêncio dos órgãos do Estado sobre o licenciamento à reserva do meu filho Osvaldo Sérgio Correia Caholo, oficial das FAA, com a patente de tenente, condenado por actos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores e depois amnistiado”.

Essa inquietação, segundo narra Isabel Correia, “deriva não só do facto de ser mãe com os olhos carcomidos de tristeza ao vislumbrar o meu filho sem norte nenhum, mas também de se tratar de uma nova era na arena política angolana e sendo [o Presidente João Lourenço] a melhor figura política desta era”.

Na mensagem, Isabel António Correia relata ainda que Caholo “foi submetido à reserva, as dúvidas pairam no ar, porque até onde se sabe todos os militares reservistas auferem os seus vencimentos”.

IMPEDIDO DE LECCIONAR: Osvaldo Caholo continua afastado da UTANGA

Para além das FAA, Osvaldo Sérgio Correia Caholo era investigador e docente de História de África e Relações Internacionais Africanas na Universidade Técnica de Angola. Foi igualmente afastado daquela instituição de ensino também por influência do processo. Na carta dirigida ao Presidente da República, a mãe do tenente “injustiçado” apresentou várias questões ao Presidente da República sobre os critérios usados para o licenciamento do filho sem beneficiar dos vencimentos.

E também falou sobre o seu afastamento da instituição do ensino onde também colaborava. “Por que razões o meu filho foi afastado da Universidade Técnica de Angola (UTANGA), sob fortes indícios de pressão por parte da Segurança do Estado? Lá, leccionava e tinha recebido uma menção honrosa de melhor estudante de sempre daquela instituição e um dos melhores Professores do ano, antes da sua detenção”, inquiriu, continuando a aguardar pela resposta do chefe de Estado. O NJ procurou ouvir a direcção dos Recursos Humanos das FAA mas não teve sucesso.

Fonte: Novo Jornal

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