IMPORTÂNCIA DAS LÍNGUAS NACIONAIS NO CONTEXTO MATALENSE

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O presente artigo faz uma abordagem pessoal, daquilo que achamos ser a pragmática das “línguas nacionais” no município da Matala.

Texto de Castilho Tavares Munjanga Marcolino | Mestrando em ensino do português e professor de língua portuguesa e literatura

O município da Matala localiza-se na província da Huíla, sendo um município circundado por várias tribos. Este detém a língua nyaneka-humbi como “língua nacional” principal. Neste espaço coabitam para além do português, línguas trazidas por indivíduos oriundos de vários pontos do país, com maior destaque do umbundu, nganguela, nyemba, kwanyama, cokwe entre outras minoritárias.

Pensamos ser importante aqui, distinguir, alguns conceitos tendo em conta as vertentes sócio-histórica e a sócio-linguística:

Para os primeiros, defendem como línguas nacionais as línguas nyaneka, Kimbundu, umbundu…por razões históricas, meio de transmissão de cultura (hábitos e costumes), isto é, por questões de herança; já os segundos, afirmam ser a língua portuguesa a única nacional, por ser unificadora dentro do território angolano.

Percebe-se que, há entre as duas forças uma discrepância no que tange ao que é considerado nacional.

Para mim, posiciono-me naqueles que defendem o português como língua nacional, pois acho ser o conceito mais legível. Desta forma, irei abordar na vertente sócio-histórica o papel das línguas nacionais.

O desenvolvimento de uma investigação sobre um município como a Matala reveste-se de alguns aspectos muito particulares não só pela vastidão geográfica, como, de igual modo, pela diversidade cultural, linguística e histórica de que é portador, onde línguas e culturas de origem diferentes se entrecruzam, tentando, em simultâneo, delimitar espaços e mentalidades.

Nesta perspectiva, a abordagem da temática linguística angolana sugere alguma prudência:

> Primeiro, por ser uma área sensível que envolve questões de identidade individual ou colectiva;

> Segundo, por se tratar de uma sociedade de tipo pluralista, onde coabitam povos com línguas e culturas próprias e, consequentemente, indivíduos que tentam manter as suas identidades.

No seio desta osmose cultural e linguística se vem realizando a língua portuguesa, que, desde a sua introdução no século XV, passando pela proclamação como língua oficial em 1975, até à actualidade, tem vindo a conhecer um processo de expansão territorial, com dinâmicas de contornos algo irreversíveis.

As “línguas nacionais” que constituem o mosaico do município, são bantus e apresentam características mais ou menos comuns:

> O seu parentesco morfológico, sintáctico e lexical e imediato;

> Considera-se que todas as línguas bantus têm uma origem comum, o proto-bantu;

> Observa-se abundância de nasais em combinação com os bilabiais, palatais, fricativas, consoantes implosivas (mp, mb, mf, mv, mbv, nd, nt, ns, nz, ng, nk, nj, ndz, nl.).

Desta forma, no contexto matalense, as “línguas nacionais” funcionam como línguas de comunicação entre povos que pertencem na mesma comunidade e não só, visto que o povo daquela circunscrição é, essencialmente, agricultor e pastoril em pequenas proporções. Para além desta vertente, é usada em contextos comerciais, religiosos, culturais e de ensino. Este último implementado em 2011 nas escolas públicas e privadas do município, com o desígnio de valorizar as “línguas nacionais” faladas nesta região.

Desta forma, pensamos ser importante a valorização das mesmas, pois jogam um papel importante na sociedade, por contribuírem para o desenvolvimento do país em todas as vertentes. Elas servem de suporte do conhecimento de uma comunidade e o elo entre a cultura e o povo.

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Bibliografia: Fernandes, J. e Ntondo, Z. (2002). Angola: Povos e Línguas. Editora Nzila. Luanda.

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