Famílias desalojadas nas Salinas em Benguela lamentam condições precárias que vivem há mais de seis meses

Compartilhe

As mais de 350 famílias que em Junho do ano passado foram desalojadas “forçosamente” pela Administração Municipal de Benguela, lamentam que, enfrentam uma vida “precária” no Magistério Primário, local onde foram realojadas pelas autoridades do Governo Provincial de Benguela.

Eduardo Ngumbe | Benguela

Segundo as vítimas, o governo local “abandonou” as famílias, cujas residências foram demolidas pelas próprias autoridades, colocando-as em “condições desumanas” numa instituição escolar fora da cidade de Benguela.

As famílias, entre adultos, crianças, jovens e idosos, dizem que precisam de quase tudo desde a falta de água potável, alimento, educação dos filhos e serviços de saúde, “uma vez que o Governo Provincial despiu-se da sua responsabilidade de apoiar os populares”.

Este portal apurou que, na escola Magistério Primário onde foram colocados em salas, não oferece as mínimas condições de habitabilidade, já que três a quatro famílias estão alojadas na mesma sala.

Em função disso, muitas dessas famílias decidiram “abandonar” o edifício (Magistério Primário Lúcio Lara), deixando assim as salas de aulas, também devido à degradação do imóvel, preferindo ficarem em tendas e abrigos erguidos com recurso a panos e paus, mas nem isso garante o distanciamento social reclamado pelas autoridades.

Relatos colhidos junto das vítimas descrevem que, devido à falta de condições sanitárias no “Magistério Primário de Benguela BG-1022 Lúcio Lara”, doenças como malária, diarreia e gripe, com uma média de cinco ou mais casos por dia, são as patologias que atormentam as centenas de famílias retiradas do bairro das Salinas.

Maria Teresa de Almeida, mais conhecida por “Jamba”, uma das vítimas do martelo demolidor, revelou que os desalojados vivem péssimas condições há seis meses, altura em que viram suas paredes deitadas abaixo por aqueles que considera serem invasores dos seus terrenos.

De acordo com a cidadã, o “grupo de invasores superiormente dirigido pelo Leopoldo Muhongo”, actual vice-governador provincial para área técnica, é composto igualmente por Márito, Manuel Catumbela e demais coadjuctores, que segundo ela, “querem apoderar-se a todo o custo das nossas terras”.

Na visão da dona Jamba, o governador Rui Falcão “é um coitado que está a ser conduzido ao erro pelos garimpeiros já mencionados”, acrescentando que “o primeiro e principal invasor de terrenos é o vice-governador Leopoldino Muhongo”.

Para as mais de 350 famílias ao relento, outro principal responsável pela “vida precária” que levam “é o senhor Márito, que aquando das demolições das nossas casas desaconselhou-nos a continuar a lutar porque”, na sua óptica, “a nossa luta seria vã porquanto alguns lotes de terra foram entregues aos comandantes da Polícia Nacional em Benguela”, afirmou outra vítima que preferiu o anonimato.

“Tanto é que a nossa luta nos dias de hoje, não é somente com a administração, mas sim com essa polícia anti-republicana também, porque ela em vez de proteger o povo, está a alvejar o povo que jurou defender”, lamentou.

Lamentam ainda que, para se apropriarem das suas terras onde habitam desde a década de 80, “as autoridades diziam que as Salinas têm donos e, quando os supostos donos apareceram saindo em nossa defesa, os invasores mudaram de discurso, vieram com argumentos de que o espaço era reserva fundiária do estado, quando na verdade nunca foi”.

Activistas dos direitos humanos solidários com famílias das Salinas

Entretanto, para minimizar a carência porque passam as famílias cujas casas foram destruídas no bairro das Salinas, em Benguela, um grupo afecto à sociedade civil mobilizou meios e recursos, onde no primeiro dia do ano “festejou com as vítimas dos desalojamentos forçados”.

O activista Emerson Marcos disse a este portal “o objectivo consistiu em proporcionar um ambiente oposto ao terror por que aquelas pessoas estão submetidas, confraternizar com eles e viver na pele a realidade”, disse para quem “os documentos exibidos no local pelos ex-moradores das Salinas atestam que o barro existe há mais de 40 anos”.

“Como podem ver, as instituições do estado validaram no passado documentos que hoje descartam subvertendo de forma horrenda direitos de alguns cidadãos por cometimento de crime de pobreza e privilegiar os endinheirados quando na verdade somos todos cidadãos e merecemos os mesmos direitos”, referiu o activista, visivelmente insatisfeito com o cenário.

Emerson Marcos frisou que o grupo de activista que foi junto das famílias “manifestar solidariedade em época festiva” enfrentou muitos entraves. “A equipa está amputada porque até mesmo para este acto de solidariedade houve ameaças de proibição a pessoas que tencionavam cá estar para solidarizaram-se com o pessoal”, afirmou.

Este portal apurou que, desde altura que os mesmos foram transferidos das Salinas à escola “Magistério Primário de Benguela BG-1022 Lúcio Lara”, a comunidade já registou ao nascimento de pelo menos 17 crianças.

Leave a Reply