“Estamos a morrer a tiro e não de novo coronavírus”, diz população de Xá-Muteba

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A pandemia da COVID-19 que assola o mundo e em particular a Angola, já fez duas mortes no país, num total de mais de 40 infectados. Para travar a propagação da doença, vigora em toda extensão do território nacional o Estado de Emergência, que pela primeira vez foi decretado a 27 de Março.

Jordan Muacabinza | Cafunfo

Contas feitas, as operações das forças conjuntas já fizeram pelo menos seis mortos em todo o país, ou seja, os polícias e militares, até ao momento, mataram mais do que o próprio novo coronavírus em Angola.

A nova vítima mortal foi registada na última sexta-feira, 15 de Maio, no município de Xá-Muteba, província da Lunda-Norte, onde a população afirma: “Não estamos a morrer de COVID-19, mas sim de tortura e a tiro por parte dos polícias e militares”.
A vítima, identificada por Adelino Adão, jovem adolescente de 17 anos, foi morto a tiro no dia em que completaria 17 de vida.

Segundo testemunhas no local, o incidente ocorreu na manhã do dia 15 de Maio, no bairro “Domingos Vaz”, no Xá-Muteba, quando um grupo de quatro efectivos (dois polícias e dois militares) destacados na prevenção contra à COVID-19, teriam abordado o jovem adolescente Adelino Adão, na altura em que se diria ao seu local de serviço.

A vítima trabalhava numa residência de um suposto empresário identificado por Sheriff, onde cuidava de várias crianças.

Já no portão da residência em que prestava serviço, o jovem foi interpelado pelas forças da ordem, que o teriam questionado sobre o não uso da máscara facial, em resposta, segundo fontes deste portal, o malogrado disse que a máscara usaria assim que estivesse num local público ou com a aglomeração de pessoas, o que não era o caso, uma vez que se encontrava sozinho no portão da casa.

“Assim mesmo começou o desentendimento entre os militares, polícias e o jovem”, disse uma das testemunhas.

Depois disso, relata a fonte deste portal, um efectivo das FAA disse: “Esses gajos não nos respeitam, vamos te matar e João Lourenço vai assumir, foi no momento em que um deles disparou um tiro contra o jovem e o atingiu na testa, tendo morrido no local”, contou, para quem “os militares estavam sob efeito de álcool”.

De acordo com os dados apurados, em consequência da morte do jovem Adelino, os populares do bairro “Domingos Vaz”, dirigiram-se até a Esquadra da Polícia, que em retaliação “vandalizaram os bens que lá se encontravam como a queima de algumas motorizadas e uma viatura, que estavam no parque há anos, “mas não queimaram nenhum documento”, explica a fonte.

Os familiares da vítima, que exigem justiça, contam que tem sido recorrente no município de Xá-Muteba os agentes da ordem “consumirem álcool” antes de irem à rua para supostamente garantirem a ordem e tranqüilidade públicas.

“Antes de eles irem às ruas, primeiro ficam nas casas de bebidas a consumirem álcool e assim vão às ruas para impedir a circulação dos populares”, disse João Adão, irmão do malogrado.

“Nós a população de Xá-Muteba estamos a morrer a tiro e não de novo coronavírus”.

Fontes no local indicam que, desde que se deu o “incidente mortal”, o bairro “Domingos Vaz”, no município de Xá-Muteba “está sob estado de sítio”, pois, não há livre circulação e os jovens do jovens do referido bairro estão dispersos, porquanto, de acordo com as nossas fontes, os militares que saíram das sedes do Cuango e Xa-Muteba para conter a situação, estão a realizar “caça homem no bairro Domingos Vaz”.

“Estamos num beco sem saída”, lamentou um dos munícipes.

O corpo da vítima ficou na morgue do Hospital Municipal de Xá-Muteba e foi a enterrar neste domingo.
Para o apoio ao óbito, os familiares receberam das mãos dois majores das Forças Armadas Angolanas (FAA), dois sacos de arroz de 25 kg, meio saco de feijão e um saco de açúcar de 25 kg.

“os familiares foram obrigados a receber os bens sob ameaças”, disse a fonte, acrescentando que “nenhum bem poderá compensar a vida do cidadão”.

A este portal, um dos agentes da corporação que preferiu o anonimato reconhece os excessos alegadamente cometidos pelo seu “colega das FAA”, argumentando que “ele cometeu um crime, pois, nós não temos orientação para tirar a vida de qualquer cidadão”.

De acordo com o agente policial, as forças destacadas pelo fazer cumprir o Decreto Presidencial sobre o Estado de Emergência “estão orientadas a mobilizar os populares para não circularem livremente, dada a situação que o país vive, mas o que sucedeu, referiu o polícia, “nós condenamos o comportamento, o tal individuo esteve embriagado”, disse.

População nega versão da Polícia Nacional

Os populares de Xa-Muteba consideram “falsos” os argumentos da Polícia Nacional, segundo os quais “a população insurgiu-se contra os efectivos da polícia e militares e para dispersar a multidão tiveram que fazer disparos no ar”.

“Isso dá-nos a entende que Angola um país onde há falsidade nos órgãos de segurança nacional”, disse um dos cidadãos de Xá-Muteba, refutando a notícia veiculada pela imprensa pública.

“A violência policial aqui na região das Lundas é o nosso pão de cada dia, pois, tudo que o Ministério do Interior disse na televisão não condiz com a verdade, porquanto o militar que disparou, não estava a dispersar quaisquer cidadãos, uma vez que no local não havia mais de quatro pessoas, a fim de dispersar os populares, é puramente falso”, disse o popular.

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