E ENTÃO, NÃO HAVERÁ AMANHÃ?

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Enquanto o mundo decidiu avançar, nós ainda estamos a importar enxadas para distribuir principalmente aos membros do partido, já que os outros são apenas outros e ninguém os mandou não alinharem com “o partido”.

Texto de Magno Domingos

Muito mais assustador ainda, é ser diariamente fustigado pela arquitectura mental escolhida por alguns de nós que decidiram abraças a mediocridade para doutorar-se nos mais variados ramos de imbecilidade. E atenção que estas ciências não foram apenas escolhidas por aqueles do lado de lá, mas os deste lado também. Pessoas que escolheram viver o agora esquecendo absolutamente que geralmente existe o… amanhã.

Deixemos a futilidade onde ela deve estar e vamos lá falar sobre o que interessa.

Se tivermos que olhar o país através das lentes de Rostow, já que aqui mesmo nunca ouvi falar de pelo menos uma única teoria económica que tenha emanado dos nossos centros de estudo e que fosse construída tendo a nossa realidade em mente, nem pelo menos um copy-paste com alguma credibilidade, e se estendermos num chão qualquer as suas cinco fases básicas de crescimento económico, não vai levar muito tempo para percebermos que não estamos ainda em nenhuma das referidas fases. Se bem que somos detentores de um desejo grande de crescimento e consequentemente desenvolvimento.

Crescer requer coragem. A coragem principalmente de abandonar hábitos antigos herdados de longínquos relevos, quer daqueles onde bestas polares comem peixe cru, como daqueles onde irmão levantava zagaia contra outro que na verdade não era o inimigo que se devia combater.

Mas voltemos a Rostow, porque na verdade gostaria de falar de outros que pensaram, e algumas vezes de formas tão simples, que não percebo onde reside a dificuldade de imitarmos. Um destes definiu que “a condição essencial não é encontrada nos dois factores do capital e do trabalho, mas na evolução das mentalidades que, longe de se derivar, está na origem”. Aqui ele se referia na transição entre a primeira e a terceira fase, e foi um pouco mais longe dizendo que “a força motriz do desenvolvimento é a constituição de uma sociedade de confiança, a confiança que o Estado concede à iniciativa individual e, acima de tudo, a confiança que os indivíduos atribuem ao Estado”. Claramente uma equação onde sobressai a mutualidade, e nada semelhante a um imbecil qualquer de pé num pódio a dizer que a juventude é a força motriz (claro que cada um tem o seu ângulo de observância, e temos que respeitar aqueles cujo ângulo é obtuso, pois a matemática também é democrática), escondendo o “eu é que mando aqui” do qual o seu coração e mente-vazia estão cheios.

Então, se quisermos ter um amanhã, ao contrário de uma sociedade de desconfiança intelectualmente patrocinada por miúdos que por causa do abdómen até deixam crescer a barba ou pintam-na em branco para que a mentira soe a verdade, ou então de simplórios que refinam o falar para esconder os embustes, ou ainda do absurdo que protagoniza o economista que não cria e prefere refugiar-se num periódico cujo titulo devia ser “o complicador”, ou outra vez ainda na dicotomia de exigir direitos sem observar deveres, enfim. Temos definitivamente que criar a confiança, pois dali para a liberdade ainda faltam as outras três fases, sem as quais é melhor até  esquecermos isso de um país bom para se viver.

Portanto, é uma sociedade de confiança que precisamos todos edificar, não importa em que lado estivermos. E antes de fazermos qualquer coisa, de dizermos qualquer coisa, de começarmos qualquer coisa é bom que nos façamos perguntas como: como mover Angola de uma sociedade de desafios à uma sociedade de confiança? Como ajudar no desbloqueio das mentalidades necessárias para o país que precisamos?  e até, como acelerar a evolução destas mentes? Pois já estamos atrasados e há quem começa ver no nosso, um país sem amanhã.

Depois de alcançarmos a sociedade de confiança, ainda teremos que: começar, atingir a maturidade e, chegar a era da realização.

Para que haja amanhã.