CONTRIBUIÇÕES À “OPERAÇÃO RESGATE”

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António Venâncio | Engenheiro

Quando um país irresponsavelmente retira dos seus cofres 7 biliões de dólares para construir um aeroporto com capacidade para 15 milhões/ano de passageiros ( o maior aeroporto do mundo na Turquia custou 4,5 biliões e tem capacidade para 200 milhões/ano);

Quando um país não investe sério na mobilidade rodoviária nacional (com estradas de qualidade) para dispersar a economia e movimentar os cidadãos empreendedores pelo território;

Quando um país gasta espantosamente 100 mil milhões de dólares em 13 anos, sem resultados palpáveis para a maioria da população, nem traça políticas públicas correctas ao longo de décadas de má governação;

Quando a delapidação do erário público corre em benefício de meia dúzia de sortudos, este país recebe como “prémio”: pobreza, comércio ilegal, venda desordenada nas ruas, vadiagem, criminalidade, desespero, migração ilegal, proliferação de igrejas e miséria. É um prémio universal. É assim em todo mundo. Parar e repensar é a solução.

Este país Angola, precisa parar e repensar. Urge CORRIGIR.

É o que, felizmente, se mostra pretender fazer.

Que Deus ilumine o caminho desta nova governação de João Lourenço. Todos somos chamados a contribuir. E eis o meu contributo a seguir.

Todo diagnóstico apresentado para a Operação Resgate está correcto. Excelente avaliação e meritórias medidas foram anunciadas.

Minha contribuição pessoal:

1) A Operação está desvirtuada no tempo. A cronologia das acções poderão trair os resultados esperados. Ou seja; estando já em curso uma séria “operação de resgate” de valores financeiros e patrimoniais ilicitamente desviados para o estrangeiro, cujos resultados se espera para os próximos escassos meses, a Operação Resgate ora anunciada vem desfasada.

É inoportuna.

O correcto seria aguardar pêlos resultados da primeira.

2) O Instituto Nacional de Estatística do país é das mais débeis instituições que dispomos. Ele não foi capaz de contar os angolanos, localizar as suas moradas, registar as ocupações, descobrir os nomes das ruas, numerar os becos, e conferir profissões, etc, etc. nem o podia fazer por falta de toponímias, números de polícia nas portas das residências, e outros mais elementos essenciais para um exitosos recenseamento populacional e habitacional.

Digamos que Angola não tem estatísticas. Assim sendo, nenhuma operação de resgate pode ter sucesso sem se conhecer primeiramente quem somos, quantos somos, onde vivemos, o que fazemos ou podemos fazer, qual a taxa de crescimento populacional, quantos estrangeiros ilegais, onde moram, o que fazem ou podem fazer e que nível de empregabilidade dispõe o país.

3) As medidas de coacção ou persuasão devem vir acompanhadas de agilização de processos burocráticos, entre os quais a extinção do alvará, maior abertura para a legalização dos artífices, profissionais de oficinas de pequeno porte, zungueiras, zungueiros ou trabalhadores braçais.

4) A operação deve iniciar com o registo. Antes de resgatar, é preciso conversar, dialogar intensamente com cada um individualmente e conhecer-lhe o fundo da alma. O vendedor de rua não o faz porque quer; fá-lo porque não vê outra saída. É preciso dialogar para mostrar-lhe O OUTRO CAMINHO. No mundo de hoje, é impossível privar a pessoa de rendimentos. Ou cai na marginalidade ou se desespera, gerando com isso maior pobreza. Mais pobres e mais pobres.

5) O pobre tem de saber que ele não é pobre; está pobre! E estar pobre, não é um mal em si. O Estado pode ajudar o pobre a pensar que não “é” pobre, que “está” pobre, mas que a sua frente há riqueza em abundância. Que há oportunidades pessoais por explorar. É preciso incluir os psicólogos, os professores, a educação, os serviços sociais do Estado no combate à pobreza e à desordem urbana. É preciso reprimir, mas antes, antes mesmo, ensinar!

Concluo:

Sem contagens, sem estatísticas, não há “operação” que vingue.

Sem educação, sem novas aberturas e sem novas oportunidades para os cidadãos mais desfavorecidos, as operações deste género fracassam se não estiverem sincronizadas no tempo e no espaço!

Moralizemos primeiramente a sociedade com os resultados vindouros da Mega Operação Resgate de valores financeiros e Patrimoniais do Estado no estrangeiro; apliquemos as medidas de coacção aos responsáveis apanhados em falta, recuperemos os bens desviados e então partamos para a outra Operação de resgate, nos termos em que foi anunciada para o meio urbano e arredores.

Boa Quinta-feira a todos!

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