CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA ESTEVE EM DEBATE NO CAZENGA

Compartilhe

Na manhã deste Domingo 24 de Março, a Plataforma Cazenga em Acção, realizou no Distrito 11 de Novembro no município do Cazenga, um debate com os jovens, subordinado ao tema: “Os desafios da Juventude na Contrução da Cidadania”.

Texto de Simão Hossi

O encontro comunitário promovido pela PLACA  – Plataforma Cazenga em Acção levou à rua do Ex-Cala Boca, distrito 11 de Novembro, a antropóloga brasileira Yérsia Assis, que se encontra no País pela terceira vez no âmbito das suas pesquisas para o doutoramento, e Luaty Beirão, activista cívico e artista angolano, que partilharam debaixo de uma mulembeira, numa espécie de um “Ondjango, T´Chota, Jango”, adjacente ao hospital Paz, situada nesta comunidade.

YÉRSIA ASSIS | RA

A antropóloga brasileira, que nasceu em Sergipe, mas que por inerência da formação teve que mudar para Santa Catarina, onde frequenta o seu doutoramento por conta das suas pesquisas, partilhou a sua militância dos grupos de movimentos negros e afro-religiosos, através do grupo Omolàiye que trabalha no combate à descriminação religiosa, preconceitos, educação e direitos humanos.

Yérsia focou na sua comunicação com os jovens do Cazenga as questões do racismo conta a população negra e indígena, as gritantes desigualdades sociais, as questões das perseguições à comunidade LGBTI+, não deixou de lamentar o retrocesso que se regista em seu País com a composição do novo governo Bolsonaro que liberalizou por decreto o uso de porte de armas.

Yérsia Assis frisou na ocasião as várias perdas que os movimentos negros, indígenas e outras várias lideranças de grupos minoritárias estejam a perder espaços de discussão já conquistado nos governos Dilma e Lulas, visto que a insegurança esta aumentar cada vez mais com o actual governo do Presidente Jair Bolsonaro.

Enquanto isso, o activista angolano Luaty Beirão, que começou por fazer um paralelo sobre a experiência da antropóloga brasileira, felicitou a iniciativa da PLACA, tendo escorrido nas suas várias experiências.

Beirão, na ocasião, salientou que se valorizasse estas pequenas aberturas que a ocasião está a proporcionar na liberdade de reunião e de manifestação. Frisou também o nível de consciência que os brasileiros conquistaram que para ele deve servir de referência.

Luaty não deixou de chamar a atenção à questão de espírito de competição e união por parte dos grupos para que não se criem divisões e ciúmes entre os vários grupos que possam surgir, pois que, para ele, há coisas que estão a acontecer no País, “mesmo que muitos chamem de teatros”, O activista deixou claro que no momento do governo de José Eduardo dos Santos era impossível que um grupo como a PLACA unisse um grupo de mais de 30 pessoas num espaço ao ar livre e a discutir assuntos sem ter que temer pela presença da polícia.

LUATY BEIRÃO | RA

Luaty, para além de chamar a atenção da importância dos espaços que se abrem, mesmo colocando as devidas aspas, aconselhou que se explorasse e utilizasse com racionalidade a internet de forma a elevar esta luta colectiva. O activista angolano entende que se deve saber exactamente o que se quer para melhor elaborar as pautas que possa serem benéficas para a comunidade e os interesses dos seus moradores, usar a criatividade para o benefício comum.

Yersia Assis falou à nossa reportagem no final da actividade que a ida ao Cazenga permitiu-lhe ter uma outra visão da cidade pelo facto de poder aprender com a troca de experiência com os jovens da periferia que estão a pensar cada vez mais em ocupar os seus espaços e criar discussão. Na ocasião encorajou o grupo de jovens a continuarem a unir as forças para continuar a consciência critica e mudar a suas comunidades.

Já Luaty Beirão desejou que iniciativas como a da PLACA possam contagiar outros grupos informais em vários bairros das periferias, tal como acontece com o “Projecto AGIR” que actua no município de Cacuaco e o projecto “Mudar Viana”, no município de Viana, pois entende que já não há momentos para ter medo.

Kambolo Tiaka Tiaka, coordenador geral da PLACA, disse que a sua organização vai continuar a influenciar boas práticas e consciências da juventude do Cazenga. O coordenador disse que têm projectos de inclusão e ajuda à construção do município, bem como ajudar na mudança de comportamento dos cidadãos com o surgir das autarquias.

Para Tiaka Tiaka, ter levado ao Cazenga Luaty e a Yérsia foi muito positivo de forma a estes poderem trocar ideias e conhecimentos. Segundo Kambolo, a escolha do local do evento foi para dar visibilidade aos problemas de acesso ao hospital da Paz que estão em péssimas condições e ser uma forma de pressionar a administração local a resolver com urgência a via de acesso desta mesma unidade hospitalar do município do Cazenga.

Leave a Reply