CAMPO DA MORTE: CASO N.º 37: UM CASO PASSIONAL

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VÍTIMA: Fabião Pedro Mandume “Fábio”, 27 anos

DATA: 20 de Setembro de 2016

LOCAL: bairro da Baixa de Kassanje, município de Viana

OCORRÊNCIA:

Fábio nem sequer pôde curar a sarna contraída na Penitenciária de Viana, de onde fora libertado três semanas antes, após sete meses em prisão preventiva. “Ele praticamente não saía de casa por causa da sarna, por isso o Mendes veio matá-lo em casa”, denuncia Eusébio Pedro “Zeca”, irmão da vítima.

A mãe da vítima, Beatriz Pedro Watele, contextualiza a detenção inicial. De acordo com o seu testemunho, o filho e o seu algoz eram rivais, supostamente por causa de uma mulher. “Como o meu filho não tinha feito nada, o Mendes da DNIC [SIC], da esquadra Móvel da Baixa de Kassanje, inventou um crime, veio buscá-lo a casa e deteve-o na sua esquadra. No dia seguinte transferiu-o para a Esquadra da Boa Fé.” O jovem foi então encaminhado para a Esquadra do Kapalanca, que o remeteu para o Estabelecimento Prisional de Viana, onde passou grande parte do tempo da detenção preventiva.

“[Depois de Fábio ter sido libertado] o Mendes foi a minha casa à meia-noite, para matar o meu filho. O meu filho ouviu um barulho no quintal e saiu do quarto [separado da casa grande] para ver o que se passava. Depois, ouvimos os tiros e o meu filho a gritar”, conta Beatriz Watele.

“’Bia [a mãe], olha, o Mendes quer matar-me! Bia, o Mendes está a matar-me!”, foi assim que encontrei o meu filho já no chão, a gritar junto à porta do quarto dele”, descreve a mãe.

Segundo o irmão Zeca, que se encontrava presente, Fábio foi atingido com um tiro no abdómen e outro no pulso esquerdo.

“Depois de ter feito os disparos, o Mendes fugiu. Mas o meu irmão ainda estava vivo e disse-nos que foi o Mendes”, reitera o irmão.

“No bairro, sabemos todos que o Mendes é da DNIC [SIC]. Ele detinha muitos jovens aqui, levava-os para a Esquadra Móvel [da Baixa de Kassanje]. A polícia tinha conhecimento das operações dele”, enfatiza Zeca.

Beatriz Watele realça que, antes de levarem o filho para o Hospital Maria Pia, onde acabou por falecer no bloco operatório, “passámos pela Esquadra Móvel para informar sobre o caso. A polícia limitou-se a tirar fotos ao meu filho. Não fizeram mais nada. O caso ficou assim”.

A família conta que, após o crime, o assassino enviou uma mensagem (SMS) a uma amiga comum, sua e de Fábio, informando-a de que o tinha matado. “De manhã, a Massada veio a minha casa com uma amiga, e perguntou pelo Fábio. Ficaram horrorizadas quando a minha irmã lhes confirmou a verdade”, revela Zeca.

 

Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais

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