BENTO KANGAMBA E O REPATRIAMENTO DE CAPITAIS: “NÃO HÁ MOTIVO PARA SE PREOCUPAREM COMIGO”

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O general angolano volta a opor-se ao repatriamento de capitais e diz que o Governo deve preocupar-se “com aqueles que prejudicaram os cofres do Estado”.

O general Bento dos Santos “Kangamba”, sobrinho por afinidade do ex-Presidente de Angola e líder do MPLA, o partido no poder, José Eduardo dos Santos, volta a opor-se à política de repatriamento de capitais empreendida pelo atual Presidente da República, João Lourenço.

Para o general e empresário angolano, do círculo mais restrito do antigo Presidente, mais do que legislar sobre o repatriamento de capitais é urgente acabar com as negociatas entre os membros do Governo e seus familiares.

O também secretário para a organização e mobilização periférica e rural do Comité Provincial do MPLA, em Luanda, diz que a lei em discussão no Parlamento não pode abranger aqueles cujas fortunas depositadas no estrangeiro não foram feitas com base em desvio do erário público. “Sou contra e continuo a dizer isso. Qualquer cidadão que tenha a sua vida e conseguiu guardar o seu dinheiro lá fora, não se sabe onde guardou, não temos que obrigar a que esse dinheiro volte para aqui, porque aquilo é dele”, considera Kangamba.

“Um Bento Kangamba que nunca trabalhou no Governo, que sempre assumiu o que tem, não há motivo para se preocuparem comigo. Têm de se preocupar com aqueles que se meteram em situações que prejudicaram os cofres do Estado”, acrescenta.

Um projeto “sensível”

Bento Kangamba é um dos poucos dirigentes do MPLA que têm tido a coragem de se opor à lei do repatriamento de capitais, um tema que incomoda muitos dirigentes no país. Um deputado da bancada parlamentar do MPLA, que falou à DW África na condição de anonimato, classificou o projeto-lei como “bastante sensível”, já que se está a legislar sobre uma matéria que irá afetar os próprios parlamentares que nas vestes de membros do Governo adquiriram grandes propriedades e depositaram avultadas somas em bancos no estrangeiro.

Figura sempre mencionada em vários escândalos de corrupção, fuga ao fisco, ou ainda a tráfico internacional de mulheres para prostituição, que acabou mais tarde por ser ilibado pela justiça brasileira, Bento Kangamba é descrito como o “Abramovich angolano”, sendo dono de um clube de futebol local, o Kabuscorp do Palanca, e financia dois clubes em Portugal, o Vitória de Setúbal e o Vitória de Guimarães.

Sucessão a JES “está a ser bem feita”

Questionado sobre se José Eduardo dos Santos deveria imediatamente abandonar a liderança do partido ainda este ano, tal como havia prometido, o general Kangamba afirmou que a promessa é para cumprir, acrescentando mesmo que José Eduardo dos Santos não é Samakuva, numa referência ao recuo do líder do maior partido na oposição, a UNITA, que se mantém na liderança, depois de ter prometido que abandonaria.  “Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O Samukuva é líder de um partido que nunca governou, Zé Eduardo é líder de um partido que governa há bastante tempo”, afirma.

Para Bento Kangamba, a sucessão do Presidente José Eduardo do Santos está ser bem feita: “Já começou, no Governo da República, e agora vamos esperar que se faça também no partido. Já há uma indicação de alguém que está a liderar o país e resta agora esperar para ele [João Lourenço] ficar também como presidente do MPLA”.

Olhando para a governação de João Lourenço, o dirigente do MPLA diz esperar que se corrija com urgência a impunidade e os negócios entre governantes e seus familiares. E exemplifica: “Às vezes, quando me nomeiam administrador, tenho de nomear também a minha filha ou a minha esposa também tem de ser secretária. Às vezes, se é nomeado ministro, depois criam-se duas empresas para prestar serviços ao ministério e é a empresa da minha filha. Essas coisas é que têm de se corrigir para o país estar bem”.

Fonte: DW

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