AGENTES SÃO ACUSADOS DE RECEBER DINHEIRO PARA SOLTAR DETIDOS

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Mais de 70 processos-crime contra os arrumadores de carros que cobram pelas vagas nos estacionamentos, principalmente na Baixa de Luanda, instruídos pela Polícia Nacional foram enviados ao Tribunal de Polícia para julgamento sumário.

Entretanto, por decisão do Ministério Público, a maioria dos acusados foi posta em liberdade, por insuficiência de provas. Porém, no Tribunal, os acusados foram aconselhados a absterem-se da prática, pois se forem novamente detidos serão julgados e condenados a pagar uma multa no valor de 20 mil kwanzas.

A Polícia Nacional está a deter os supostos arrumadores de viaturas que ocupam os estacionamentos nas áreas da Mutamba, Coqueiros e outras partes da Baixa de Luanda. Os autores dessa prática estão a ser encaminhados para o posto policial da Marginal e esquadras do Bairro Operário, Maianga e Boavista.

Contactados pelo Luanda, Jornal Metropolitano, “os cobradores de vagas”, que preferiram o anonimato, reclamaram pelo facto de ficarem detidos vários dias e por terem de pagar, às vezes, até 4.500 kwanzas para serem soltos.

De acordo com os arrumadores, a cobrança deste valor é feita na esquadra e o autuado permanece detido caso não faça o pagamento. António Pedro conta que foi detido há semana passada na Mutamba, na companhia de outros jovens que foram levados para a esquadra da Boavista, onde passaram uma noite. “Fomos obrigados a varrer a esquadra e a lavar os carros dos chefes”, disse, acrescentando que tiveram de entregar o dinheiro que possuiam.

Luís Estragado, também detido, disse que foi alvo de extorsão em outra ocasião. “Quando me prenderam e me levaram para o posto da Marginal pediram 4.500 kwanzas”, afirmou.

POLÍCIA NEGA COBRANÇA

O porta-voz do Comando Provincial da Polícia Nacional, inspector-chefe Lázaro da Conceição, negou categoricamente as acusações segundo as quais a corporação está a deter “arrumadores” de carros na Baixa de Luanda. Admitiu, contudo, que está a “recolher” alguns jovens que exercem actividades de forma ilegal e que os encaminha para as esquadras policiais onde são identificados pelas impressões digitais para averiguar se têm antecedentes criminais.

O porta-voz garantiu que, depois do cumprimento desta formalidade, eles são colocados em liberdade sem pagamento de qualquer multa. Em relação à acusação sobre a cobrança de dinheiro por efectivos da Polícia Nacional, Lázaro da Conceição pediu aos eventuais lesados que denunciem os infractores e adiantou que, com base nessa informação, serão tomadas medidas disciplinares e criminais.

“Sempre que as pessoas forem confrontadas com esse género de situação devem denunciar, mesmo de forma anónima, para serem tomadas as devidas medidas disciplinares”, aconselhou.

ACTIVIDADE ILEGAL

OS “ARRUMADORES” de viaturas na via pública sabem que a cobrança é ilegal. No entanto, alegam que exercem essa actividade para sobreviver. Eles actuam como uma colectividade e em muito casos cativam vagas para clientes fixos. Os lugares são marcados com caixotes, pedras e outros objectos.

Muitos “arrumadores” agem como se tivessem a posse do espaço público, chegando a determinar quem estaciona
e em algumas situações ameaçam os automobilistas. Apesar da existência de parques do estacionamento público na Marginal 4 de Fevereiro, o negócio da arrumação de carros na via pública é rentável, pois a maior parte dos automobilistas evita aqueles lugares devido aos altos preços praticados.

GANHA-PÃO

O “negócio de arrumar carros” é o ganha-pão de Seabra Lobato, que veio do Londuimbale, Província do Huambo, em busca de melhores condições de vida. Desempregado e sem família em Luanda, vive com amigos. A solução que encontrou foi fazer este “bico”. Em sua opinião, esta é também uma forma de abster-se de práticas erradas.

“Se alguém quiser estacionar e lavar o carro cobro 1.200 kwanzas. Com esse dinheiro consigo viver sem ter de roubar”, argumentou. João Salambongo, natural de Caxito e residente no bairro S. Pedro da Barra, é “dono” de alguns lugares para o estacionamento de viaturas. Como todos os outros, diz que exerce essa actividade para não roubar.

“Não conseguimos outro emprego. Fazemos este trabalho até ao dia em que aparecer outro”, desabafou. Para estacionar nas ruas da Baixa de Luanda, os automobilistas pagam entre 200 e 500 kwanzas por dia, valor que lhes permite ter alguma garantia de que os carros não serão vandalizados.

Fonte: Jornal Luanda | Fula Martins

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