AGENTES DA SEGURANÇA DO ESTADO INTERROGAM PRESOS POLÍTICOS EM CABINDA

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Na passada sexta-feira, uma delegação de agentes do Serviço de Informação e Segurança de Estado (SINSE) provenientes de Luanda deslocou-se à cadeia civil de Cabinda com fichas contendo os dados pessoais e fotografias dos detidos. Os mesmos fizeram-se passar por membros da associação Mãos Livres, que ter-se-ão deslocado de Luanda a Cabinda no dia 4 de Abril para prestar solidariedade aos presos.

Texto de Nelson Mucazo Euclides

Ao longo de uma conversa com os presos políticos, os mesmos foram questionados sobre os países em que tenham viajado, em quantas empresas já terão trabalhado e em quais terão entregado os seus currículos. Sendo a maioria desempregada, a referida delegação fez propostas para empregar alguns e financiar pequenos negócios para os mesmos.

A revelação foi feita no passado sábado, 6 de Abril, por Maurício Gimbi a um grupo de activistas da ADCDH (Associação para o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos) e de um activista integrante da campanha “Eu sou Cabinda: Clamo Por Justiça”, que se deslocaram à cadeia civil para efectuar visitas aos detidos.

Segundo os activistas, o presidente do MIC disse que deram conta de que não eram membros da associação Mãos Livres pois pediram alguma identificação ou documento da associação e eles nem sequer tinham. Por outro, segundo Maurício Gimbi, a sala em que estavam a ser interrogados continha condições de acomodação muito confortáveis, o que nem sequer aconteceu com a delegação dos deputados da UNITA que havia se deslocado para a cadeia no passado mês de Março e foi colocada numa sala com péssimas condições. Por este facto, Gimbi orientou aos membros do MIC para não responderem a nenhuma pergunta sem a presença dos advogados.

Segundo Alexandre Kwanga Nsito, presidente da ADCDH, “o facto de serem interrogados por agentes dos serviços secretos e sem o conhecimento nem a presença de nenhum advogado demonstra claramente que estamos diante de um processo político. O processo está bastante viciado, pois a função de interrogar os detidos cabe aos investigadores e procuradores e na presença dos seus advogados, e nunca a infiltrados que se fazem passar por membros da sociedade civil. Mais uma vez estamos diante de uma clara violação da lei e da Constituição. Os activistas do MIC estão a ser interrogados e aliciados por homens dos serviços secretos para extinguir o movimento em troca de empregos e viagens”.

Por sua vez, o activista Geraldo Dala, que se deslocou a Cabinda para o lançamento da campanha de solidariedade denominada “Eu Sou Cabinda: Clamo por justiça”, disse que a detenção dos membros do MIC demonstra claramente a falta de capacidade de diálogo das autoridades angolanas que está acostumada a reprimir as pessoas.

“O governo do MPLA não sabe dialogar. O que mais sabe é reprimir e torturar as pessoas. O Maurício Gimbi disse-nos que o MIC tem como objectivo fundamental o diálogo com o governo e isto está espelhado na carta que foi remetida às autoridades e aos partidos políticos antes da realização da marcha. O MIC é um movimento de luta pacífica e não de luta armada. Nunca pretenderam pegar em armas como tem vindo a afirmar o ministro da Justiça, que devia preocupar-se com a situação deplorável dos detidos que têm sido torturados e ameaçados, ao invés de fazer acusações infundadas. O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos só está a mostrar que a justiça e os direitos humanos em Angola são uma palhaçada e brincadeira porque ele, que devia velar pelo seu cumprimento, vai proferindo várias mentiras”, rematou o activista.

Na mesma ocasião, Maurício Gimbi denunciou aos activistas a perseguição de que têm sido alvo os seus familiares, principalmente o seu pai, Bernardo Pedro Gimbi, que também esteve detido durante 30 dias.

“Todos os dias, um ou dois carros da segurança ficam a rondar a casa do meu pai, de dia e de noite. A minha família não está segura, ela teme pela sua vida. Até eu mesmo escapei. Se estou preso, é sorte. Porque a intenção deles era eliminar-me”, relatou Maurício Gimbi aos activistas.

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