“A vitória do MPLA está a ser garantida a nível legal”, diz Marcolino Moco

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Marcolino Moco crê que MPLA não tem possibilidades de ganhar sem uma “fraude escandalosa”. Antigo primeiro-ministro parece não ter dúvidas de que a máquina eleitoral está a ser preparada para a vitória do MPLA em 2022, afirmou o antigo Primeiro-Ministro em entrevista à DW.

Em Angola, as eleições gerais ainda estão distantes, mas o nível da disputa política já quase roça o chão. Numa clara referência ao Presidente João Lourenço, o ex-primeiro-ministro Marcolino Moco, diz eu isto acontece porque no país “há intenção de governar na instabilidade”.

O Presidente João Lourenço promulgou esta terça-feira (23.11) a legislação que altera a Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais, ignorando os apelos dos partidos da oposição, que na semana passada criticaram a aprovação da lei no Parlamento apenas com votos favoráveis do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

Para Moco, está mais do que claro que a vitória deverá ser para quem tem a faca e o queijo na mão: o MPLA.

O ex-dirigente do partido que governa Angola há mais de 46 anos parece não ter dúvidas de que a máquina eleitoral está a ser “afinada” para isso.

DW África: Porque a “guerra política” vive uma escalada sem precedentes?

Marcolino Moco (MM): Nós não temos uma liderança interessada em estabilizar o país. A preocupação é mesmo desestabilizar. É uma geração de líderes que aprendeu que para governar tem que desestabilizar. O tempo que falta para as eleições é tão longo que não deveríamos estar a viver o que vivemos. E todas as crises são absolutamente alimentadas pelo comportamento do Presidente da República.

DW África: De quem seria o interesse de desestabilizar este momento, do Presidente e do partido que governa?

MM: Acho que o partido o faz isto por tabela e por falta de coragem dos outros dirigentes e militantes. Porque eu acredito que toda a gente tem consciência, mesmo no próprio MPLA, que talvez tenha um sistema que absorve quem chega à Presidência da República.

DW África: Enquanto a oposição anda muito ruidosa e até tumultuosa, o partido no poder opta pelo silêncio, mas apresenta fortes indícios de está a agir de forma contundente, com todos os meios a seu dispor, mesmo que aparentemente ilegais. Numa guerra dessas, as chances de vitória na luta eleitoral pendem para que lado?

MM: Provavelmente, mais uma vez, vamos ter uma vitória da sigla MPLA. Não é propriamente o MPLA que está a fazer isso. Há propriamente um sistema que tenho chamado de “ordem superior”. Vocês, jornalistas, deviam investigar onde está este problema. São as secretas do país que estão a submeter a todos, que orientaram José Eduardo [dos Santos] a cometer aqueles erros todos e orientam João Lourenço a cometer estes erros, a esta arrogância do poder, [a esta] ideia de que, quando sou o Presidente, já sei tudo. Em termos concretos, o MPLA para já não tem possibilidades de ganhar sem uma fraude muito escandalosa. Acredito que quem quer apostar nisso está enganado porque estamos a lidar com uma maioria de pessoas que já não vai aceitar o argumento da guerra, o argumento de que a UNITA não presta e não pode governar. As pessoas querem a alternância, sobretudo as camadas mais jovens, que vão se tornando maioritárias e não viveram o período da guerra.

“As pessoas não vão aceitar o argumento de que a UNITA não presta”, diz Moco

DW África: Antevê conflitos pós-eleitorais em Angola se considerarmos os ânimos exaltados que se assiste no país?

MM: É sempre possível que isto aconteça. Mas esta sensação de ânimos exaltados, eu não vejo bem assim. Porque não há motivos para exaltação de ânimos aqui. Há provavelmente esta intenção de governar na instabilidade, mas de forma muito artificial.

DW África: Pode suspeitar que a máquina eleitoral está a ser montada para garantir a vitória do MPLA?

MM: Todos os sinais dão nisso. Até porque isto está a ser garantido a nível legal. O Presidente há tempos fez uma simulação de vetar uma lei claramente injusta e favorável a uma parte dos competidores. Contrariamente às regras vigentes na região da África Austral, não se faz a contagem no local. [Os votos] vão para os aviões, com estas desconfianças todas que há.

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