A RESSURREIÇÃO ECONÓMICA DE ANGOLA

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Ambrósio Tacula | Geostrategista e Pesquisador em Geopolítica e Inteligência Económica

O sucesso de um pais caracteriza-se não somente pelo seu crescimento económico mensurado pelo seu PIB ou o PIB Per Capita mas sobretudo pelo seu desenvolvimento económico, que representa o aspecto qualitativo social e humano. Para tal, nos é mister adoptarmos com urgência modelos eficazes que catapultem o desenvolvimento já há muito esperado. Angola é uma engrenagem, um corpo inanimado que carece de uma ressurreição económica.

O modelo criado pelo Prémio Nobel da Economia, o Dr. e PhD Sr. Arthur Lewis, referente à Teoria do Crescimento e Desenvolvimento Económico para os países em desenvolvimento pode muito bem ser aplicado ao caso angolano. Esse modelo consiste precisamente em dois sectores, nomeadamente: i. 1° Sector – Agricultura; ii. 2° Sector – Indústria

Esses dois sectores são cruciais para o alcance do crescimento e desenvolvimento económico sustentável que se quer para o país, afim de estimular a produção do mercado interno e, consequentemente, a estabilidade na Balança Comercial. O processo desse duplo sector é efectuado com base em uma transição dos Inputs (entenda-se, força de trabalho) do 1° sector para o 2° sector, fazendo com que os Outputs (produto) Per capita aumentem consideravelmente a Produtividade Marginal, que por sua vez representa lucros, isto é, fora a produtividade regular já existente em uma determinada indústria. Ou seja, por outras palavras, o investimento deve ser feito em indústrias transformadoras, com tecnologias, máquinas, etc, para se garantir a transformação da matéria prima (já existente no primeiro sector) em produto final, alocando sobre ele a força de trabalho proveniente do primeiro sector.

Contudo, no meu entender, a Teoria do Crescimento e Desenvolvimento traz consigo uma certa limitação à medida em que ela propõe uma transição paradigmática em direcção a outra. Face a esta limitação, proponho um modelo não alternativo, mas complementar. A essa Teoria denomino Teoria de Interconexão Sectorial (a ser desenvolvida em outros futuros artigos).

A Teoria de Interconexão Sectorial é a inter-relaçao complementar entre dois ou mais sectores na busca de um objectivo comum. Para o caso em concreto, trata-se aqui do sector agrícola e industrial.

O modelo económico de duplo sector tem sido sucesso em países como a China e a África do Sul. Mas o país que mais proezas e benefícios logrou foi certamente a China que ao aplicar o modelo viu o 2° sector não só a dar saltos quantitativos em termos de produtividade marginal, mas também no aumento exponencial nos ordenados da força de trabalho.

Mais, além desta importante teoria de desenvolvimento económico, devemos ainda acrescentar sobre o modelo supracitado (do duplo sector) outras sinergias que produzam a tão esperada ressurreição económica de Angola. Tal só será possível se aplicarmos fórmulas que vão para além dos manuais académicos de economia. Do meu ponto de vista existem quatro (4) grupos de virtudes fundamentais que podem ajudar a alavancar a economia nacional, a saber:

1- Inteligência Económica

Num mundo de permanentes oscilações e guerras económicas, onde os grandes autores económicos, e as potências mundiais tentam, com a suas geopolíticas e estratégias económicas, influenciar para o seu próprio beneficio os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, mantendo-os de cócoras e dependentes, sendo que eles controlam todo o sistema económico mundial, há que usar de Inteligência, e sobretudo de Inteligência Económica, para sobrepor todos esses efeitos colaterais. Mas será isso possível? Sim, é possível se repensarmos as nossas universidades, fazer delas polos de pensar economicamente o país, fazer delas fábricas de criadores de riqueza, fazer dos licenciados, não pedintes, mas criadores de emprego. Pois que tudo depende daquilo que nós enquanto angolanos podemos fazer pelo nosso país e não esperar que outros venham pensar aquilo que nós queremos ser.

2- Organização e Coordenação

Como fazer Angola funcionar em harmonia e sincronia? É preciso combinar dois aspectos imprescindíveis – Organização e Coordenação. Angola deve funcionar como um corpo mecánico de engrenagens, cuja as rodas dentadas se encaixem perfeitamente. O corpo representa todo aparelho estatal, o sistema financeiro e a sociedade civil, conectados para uma causa comum. O Executivo deve criar, nesse particular, uma estrutura organizacional de comunicação vertical e horizontal permanente, entre si e os principais actores sociais e económicos.

3- Disciplina

É preciso entender que o desenvolvimento económico não depende somente de aspectos geopolíticos ou da implementação de políticas macroeconómicas postas à disposição para a sua efectivação. Se a sociedade, o povo, não for educada a ser rigorosamente auto-disciplinado e severo quanto à moral, por exemplo, a cumprir os compromissos marcados, os horários estabelecidos, seriedade no trabalho, honestidade, etc, vão será o nosso esforço; Se considerarmos países como o Japão, a Coreia, os países nórdicos, veremos grandes exemplos de disciplina. Pois só foi com disciplina na organização e Coordenação que estes conseguiram alcançar os seus objectivos primários. Para que tal quadro fique completo deve acrescentar-se mais três (3) elementos desenvolvidos no quarto ponto, a seguir neste artigo.

4- Ética, Moral, e Identidade Nacional

Nenhuma sociedade que se quer sã, firme e educada sobrevive ou permanece em pé sem a sua Espinha dorsal (sem a sua coluna vertebral) para a sustentar; Sendo que Essa espinha dorsal, que serve de sustento, é o arcabouço ou a estrutura da sociedade. Em outras palavras, já trazendo para cá uma metáfora paralela, um corpo humano (carne) só se mantém em posição vertical porque tem uma coluna vertebral que o atravessa, uma estrutura (o esqueleto) que o sustenta. A educação de base, os valores éticos e morais, e a sua identidade nacional que representa uma determinada sociedade ou pais, são pilares fundamentais para o seu desenvolvimento socio-económico. Pelo que urge a construção de uma sociedade em que estejam bem presentes esses valores que nos ajudarão a nos defender de invasões culturais externas.

Todos esses factores combinados com sinergias bem coordenadas e organizadas, e se aplicarmos com eficácia e eficiência os modelos correctos, sairemos certamente a ganhar e não precisaremos continuar dependentes de importações e poderemos viver sem ajudas e empréstimos maquiavélicos de FMI e os demais Credores internacionais.

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